terça-feira, 29 de abril de 2014

Acordar no voo

Valeria Docampo
Acordo com a leveza no corpo,
e o fogo no olhar.

Oiço a voz do vento que assobia lá fora,
pesaroso e um pouco assustado.

E sei que consigo voar,
do cume da palavra adejo,
e,
no respirar firme,
 da cor do poema.

Imóvel,
sonho pássaros,
e sol em completo desalinho
.
©Piedade Araújo Sol 2014-04-29

terça-feira, 15 de abril de 2014

Sei que, ainda

Alexia Conti

Sei que,
ainda me lês,nas entrelinhas da vida,
ou num livro que por negligência ,
ainda me falta escrever,
mas que tu sabes parte do enredo,
porque terás sempre parte nele,
e,
das palavras destacadas nos espaços desabitados,
de desvarios literários,
das tardes entorpecidas entre nós.

Sei que,
muitas vezes, arrumas-me em gavetas,
ou se calhar nalguma estante que alguém propositadamente,
se esquece de limpar o pó,
ou nas noticias que chegam do outro lado
dos azuis(sempre os azuis). 

Sei que,
 ainda me lês, por vezes
em meros pensamentos desertores,
ou em alguma música, que ouves,e lembras de mim,
e sei que todos os dias, acendem-se nos teus olhos,
fragâncias disfarçadas nos odores da manhã na cidade,
em maresias de nós.


©Piedade Araújo Sol 2014-04-14

terça-feira, 8 de abril de 2014

Nas minhas mãos tenho uma chave

Alexia Conti
Nas minhas mãos tenho esta chave,
que acautelei, e já não sei para que serve,
mas, acho que é ela que ainda me  guarda os sonhos.

Ofereço-ta
Segura-a
Leva-a

Deita-a aos ventos,
para que eu possa voar em paz,
e não me sentir presa,
a nada nem a ninguém.

Deita-a fora
Porque eu não tenho coragem.


©Piedade Araújo Sol 2014-04-07

terça-feira, 1 de abril de 2014

Sonhei.....esculpido entre nós havia um muro

Oleg Oprisco

Sonhei...
 esculpido entre nós havia um muro,
 enorme, separado
por muita água, muito mar,
e também camélias e papoilas.

Havia gaivotas a sobrevoar, sobre mim.

Apurei o ouvido e imperturbavelmente,
rezei uma oração muda, para
que os ecos me trouxessem o som da tua voz,
a chamar o meu nome.

Como naquela noite, em que ficamos presos nas teias,
das palavras e dos corpos,
e dos sons que lá fora a cidade,
exalava.

Na minha imaginação eu conseguia ver
as cores e sentir  os cheiros das flores.

Ao acordar e  ao olhar para além da janela,
eu apenas vislumbrei a azáfama,
das pessoas anónimas que se misturavam,
entre si e nem se olhavam.

Talvez o sonho fosse apenas uma maneira,
de guardar em mim os teus cheiros e,
o eco da tua voz, a não querer desmoronar-se,
no horizonte do meu sentir

©Piedade Araújo Sol 2014-03-28