Peço perdão,
mas não tenho estrelas
para oferecer,
nem sequer luz, porque o dia renasce,
e é ele que nos ilumina o ser e o querer.
Tenho as minhas mãos ,
que vazias podem fazer magia,
derreterem-se em fantasia,
e com elas escrever um poema.
Tenho o meu sorriso,
autêntico e cândido,
que nem sempre é alegre,
embora eu me zelo para que assim seja.
Trago o olhar no gesto das pequenas coisas,
quase ténues, em memórias de outro tempo,
bem-aventurado e cristalino,
em que eramos felizes e não sabíamos.
Muitas vezes quando as sombras me sobressaltavam,
e os meus fantasmas ressurgiam,
eu amedrontada, forjava histórias,
para lutar e não ficar com medo.
E fazia-me forte para ninguém saber,
que eu morria de medo desse breu,
que em mim pousava e demorava-se,
desde sempre me acompanhou e nunca de mim se apartou.
Em contraponto amainava o ver a rebentação das ondas,
que pareciam entrar pela casa dentro,
mas o muro alto de betão protegia-nos potente,
quando a noite se alvoroçava em tempestades casuais.
Um dia o meu chapéu voou da minha cabeça,
e as ondas levaram-no, eu não o consegui salvar,
e minhas lágrimas derraparam gordas,
tanto sal, tanto mar, tanta água….
© Piedade Araújo Sol 2021-01-18
Imagem: Viktoria Haack
Etiquetas: Piedade Araújo Sol, poesia