terça-feira, 29 de outubro de 2013

por entre as palavras

Christina Nguyen ..

abandonaste-me, por entre as palavras
das páginas, que entretanto abri
e que depois escrevi
no meu próximo livro.

não me levaste contigo,
não sei se te perdi, e acho que não,
porque eu nunca destruo as palavras, que te dão vida e me lembram
aromas, e onde por vezes
completamente desordenadas, consigo encontrar algum fio condutor
para as apaziguar. depois esqueço-as
pelo simples prazer de ter novamente a tarefa
para as voltar a arrumar e desarrumar.

escrevo-te no poema que dependuro na alma,
folheio-te nas passeatas junto ao mar,
e mesmo que não me levasses contigo,
eu nunca me desabriguei das letras,
com que te posso inventar, escrever, ou
simplesmente
amar.
.
©Piedade Araújo Sol 2013-10-28

terça-feira, 15 de outubro de 2013

ao longe um eco de violinos


Ao longe apenas o eco dos violinos, a invadir, 
o ouvir que se transmuta e leva-nos a sermos,
reféns de letras entranhadas em toadas e cores que,
nos amparam o sorrir e o viver.

Há acordes que não se devem sentir, assim como,
há palavras que não se devem dizer, nem tão,
pouco escrever, talvez porque são íntimas, 
são apenas nossas, e numa frase podemos deixar de 
dizer, o mais importante, e assim o silêncio seria
um justo vencedor.

Hoje sei que o reflexo do dia me traz a serenidade, 
que cabe no sentir e na cor que auguro,
para pintar o meu desenho, e comungo a paz,
que gostava que um dia fosse eco de todas,
as palavras que não digo.

Hoje vou pintar palavras com cores, nos abraços ,
de esperança e nos beijos que escrevo nos teus lábios.

Ao longe um eco de violinos..

©Piedade Araújo Sol 2012-10-14

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Realidade Outonal

Raymond Doward


Abraço este caminho de regresso
Ao cume da partida sufragada
Pelas áleas da saudade
Vertida nas águas apressadas

Deste outono em desalinho
Essa necessidade de sentir a verdade
Que esconde
A fragilidade da mentira encapotada
Entre as portas encerradas
Com cheiro de bolor entranhado

Dá-me as cores austeras das tardes
Em breu cinzento
E órfãs de ocasos sublimes
Deixa-me sorver com dignidade
Esta catadupa de desnortes
A abaterem-se em mim

E sobre todas as minhas realidades,
agora apenas pesadelos.

Onde os sonhos jazem e já nada são,
senão farrapos. 

©Piedade Araújo Sol 2013-10-07

terça-feira, 1 de outubro de 2013

barcos do silêncio em mim

ahmed azzam

Hoje não me apetece escrever. Mareio nos barcos do silêncio que se hospedou em mim. Em nós. Tu dizias que os silêncios também se podiam ouvir. E eu não acreditei. Hoje não me apetece escrever. Porque o silêncio está em mim e nos barcos. E eu não sei gerir este silêncio que se instalou em tudo, o que ainda me resta de ti.

©Piedade Araújo Sol 2013-09-28