Dizias que eu, quando me sentia triste, ia para casa
e escrevia um poema.
Mas eu faço poemas mesmo quando não estou triste,
escrevo apenas palavras que brotam de mim
e que ficam ali no papel,
apenas isso. Amanhã, nem eu própria nem ninguém
se lembrará mais delas, das palavras.
.
Eu escrevo insónia e ninguém entende.
E não há motivo aparente para entender.
E se me apetece ligar para ti, não o faço
porque não tenho nada para te dizer,
era só para ouvir a tua voz, mas tu nem irias atender,
porque estás atulhado em trabalho e eu sei que
é verdade, sei, mas não sei se sei aquilo que penso que
sei,
porque eu escrevo insónia, e é só uma palavra.
.
Todas as noites antes de adormecer eu escrevo um SMS,
mas não te envio. Leio e depois apago.
Eu sei que tu dirias que não tinhas tempo de ler
E que isso são coisas de putos
E eu volto a escrever insónia.
.
Ninguém sabe que a noite pode não ser igual para todos,
pode ser terrível
de onde saem todos os espectros que nos assolam e
nos transmitem medo.
.
Eu escrevo medo e ninguém tem medo.
Ninguém tem medo do meu medo.
Ninguém quer saber a cor do medo e afinal sou só eu
que tenho medo,
que desfio as cores complicadas que ele emite.
E de que serve escrever insónia?!
Ninguém se lembra…
Ninguém tem medo das palavras que não mostro…
© Piedade Araújo Sol 2012-10-22
Foto : Punczek
Etiquetas: Piedade Araújo Sol, poesia