Atravessando as janelas chega-me uma frincha de luz, que desertou por entre as nuvens que entornam o céu, só para me fazer companhia. A chuva não tarda, e eu gosto de sentir a chuva desabando sobre o asfalto da praça, quando, estou aconchegada na minha zona de conforto.
É nestes dias que sinto que a minha pele respira memórias, talvez inconcebíveis para os outros, mas puras e essenciais para mim.
A vida é um palco de pequenas e grandes memórias, que escorreguem entre nós.
Eu disse-te um dia, que ninguém pode perder o que não tem, e eu sei que nunca te tive, pois, e como diz a canção ninguém é de ninguém é um facto consumado.
Mas o mundo gira, a vida acontece, os dias passam velozes, e as memórias ficam para todo o sempre.
As noites chegam e por vezes são longas. E eu tacteio no leito, como quem pesquisa, um sonho, e sei que em algum lugar a noite também te procurará, além do sonho e do sentir.
A sensibilidade fica comigo e a saudade também.
©Piedade Araújo Sol 2023-12-04
Imagem :Mira Nedyalkova