As palavras que ainda não te disse
É em silêncio profundo,
que me sufoca na distância desmedida
de todas as cidades que nos separam,
que eu ainda te espero (enquanto faço um esboço
do que será o teu rosto).
.
Nas muralhas impassíveis (do destino), adejam
aves num esvoaçar de asas soltas
em ininterrupto movimento.
E as penas delas, caídas na agitação do voo,
juntam-se à minha pena persistente.
.
Tenho um nome (o teu)
esculpido no silêncio das muralhas,
reavivado nas memórias que abraço nítidas
e nos lentos olfactos que viajam em mim.
.
Quero estreitar, por isso, o corpo e a alma
desse rosto esboçado que eu amo, para além
de todas as distâncias e de todos os silêncios,
de palavras que ainda não te disse.
Foto:Paulo César