terça-feira, 30 de setembro de 2025

Os Poetas

São sopros de eternidade,
asas que não se vêem
e flores que ardem na boca.

Guardam o silêncio das nuvens
e a vigília dos anjos caídos,
olhando a terra com olhos secretos.

Suas armas são enigmas:
palavras de fogo,
que atravessam apenas os escolhidos.

São ternura disfarçada de sombra,
bondade que sangra no invisível,
e se consome inteira
— por todos, e por ninguém.

©Piedade Araújo Sol 2025-09-29
Imagem : Max Yeri

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terça-feira, 23 de setembro de 2025

O ódio

 

 

Que o ódio não seja o invasor
do templo onde repousou o amor.

Deixa que as lágrimas se tornem rios,
e que os rios aprendam a esquecer.

Deixa que as mágoas se fechem
como cicatrizes que já não doem.

Só assim o coração se ergue,
leve como o sopro do perdão.

© Piedade Araújo Sol 2025-09-22
Imagem : Brooke Shaden

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terça-feira, 16 de setembro de 2025

Rumos Distintos

Eu nunca te perdi
apenas segui caminhos
os meus levavam à poesia
e à prosa sussurrada
que a vida me ia contando.

Tu nunca me perdeste
nem te resgatei das ruas
ou das viagens longínquas
onde milhas sem fim
te levavam e traziam

Ainda seguimos rumos distintos
mas nunca nos perdemos
um do outro.

©Piedade Araújo Sol 2025-09-15
Imagem : Brooke Shaden

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terça-feira, 9 de setembro de 2025

Cartografia do Invisível

 

Tem dias em que esboço
uma linha contínua:
um espaço perfeito
para ver o que lá não existe
e que o olhar inventa.

Talvez uma flor nascida da pedra,
no muro que se esfarela,
sem que ninguém semeie
nem regue — e ainda assim existe,
com imensa ternura quando a contemplo.

Às vezes
há flores que nascem
dos escombros:
germinam frágeis, mas com aroma
e uma beleza incontestável.

Há linhas contínuas
que se abrem em flores furtivas,
e há silêncios clamando em surdina —
também eles,
linhas contínuas.

©Piedade Araújo Sol 08-09-2025
Imagem : Brooke Shaden

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terça-feira, 2 de setembro de 2025

Outros tempos


Faz tempo que não voltava ao teu cais.
Sabes, tudo está modificado.
Nada é como foi no teu tempo.

No tempo em que tu olhavas o mar,
sabias como seria o dia
e a saída dos pescadores para a faina.

Olhei e já não vi os barcos daquele tempo.
Alguns estavam atracados,
como se despedaçassem em lágrimas.

Alguns completamente inúteis,
outros, esperando melhores dias,
na calmíssima erosão deles.

Uma luz apressada surgiu,
e fechei os olhos, pois acho que me correu
um pouco do sal das marés,ou um cisco salgado
se afogou nos meus olhos, e no meu ser,
traduzido em saudades.

©Piedade Araújo Sol 01-09-2025
Imagem : Michal Zahornacky

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