Tela inacabada
Coloriste um desenho, com linhas imperfeitas, enigmáticas, escorrendo sonhos em faúlhas de cores e simbioses, destinos obscuros .
(disseste-me)
-És tu!
Entre as linhas delineadas o meu olhar apenas vislumbra confusão de tintas, estilhaçadas na textura da tela pintada, labirintos de vazios.
(disse-te)
-Não sou eu!
E a tela inacabada (sem rosto e sem olhos) repousa no cavalete. Quando a janela fica aberta e o luar incide, goteja a sua luz através do lençol que a mantém ocultada.
Sonhei que um dia regressas para a acabar ou apenas e tão-somente para a levares.
© Piedade Araujo Sol Agosto 2011