tenho espelhos de água dentro de mim
tenho espelhos de água dentro de mim que se agitam na sombra dos dias apagados, nas cores desbotadas, na retina dos olhos despojados de esperança, da ternura das águas corrompidas.
dos olhares cativos, sei dos pássaros que sobrevoam o voo possível, para lá dos estilhaços, que sem querer retenho nos escombros dos abismos que se estendem sem mim.
um dia estarei de perfil a juntar as pétalas das camélias, que sem querer a chuva destruiu, e as minhas mãos a desdobrar a doçura moribunda que a primavera anunciou.
ainda e sempre tenho espelhos de água dentro e fora de mim.
Foto : asiasido