Quimera
Às vezes gostava de não ter passado, nem futuro,
e simplesmente congelar-me no presente.
Rasgar céus, sobrevoar as nuvens
estreitar os seus flocos, fazer fios de algodão doce
derreter em minhas mãos açúcar
e sentir o cheiro de caramelo quente.
Às vezes gostava de ser um rio
e seguir esbarrando pelas pedras
e inventar peixes que me pressentiam
rio em corrida desenfreada para a foz
e ser mar e sal, estirado
em cima da areia amarela e morna.
Mas todos temos passado
que gostamos de relembrar ou não
existe além de nós, existiu
desigual ou análogo para todos
não podemos fugir ao nosso destino
que não escolhemos mas é o nosso.
E por vezes
quase que me deslembro
deste oásis que busco e encontro
nestes fiapos de ilusões, que constroem
a fome e a sede, e perduram
caindo em cascata na minha utopia.
©Piedade Araújo Sol 2021-10-25
Imagem : Tina Spratt
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