Que me importa!

Que me importa!

Se nos meus sonhos
aparecem fantasmas
que me aniquilem
fazem-me sofrer
ferem-me
meu corpo frágil
e sem forças para lutar...

Que me importa!

Se os fantasmas
nunca têm rosto
e eu apenas oiço
seus gritos histéricos
risos ruidosos
que me magoam
e ensurdecem meus ouvidos....

Que me importa!

Se os fantasmas me fazem
ficar lavada em suores frios
se as noites são aterradoras
se me perseguem
sonho após sonhos
se são imaginários ou não...

Que me importa!

Se uma noite não os ouvir mais
não os ver
e não mais acordar....

Que me importa!

Foto de :N...O.

Olhos de lince

os teus olhos brilhavam
na escuridão da noite
e
eu queria fazer um archote deles
para iluminarem
o meu caminho....

Foto:Carla Cardoso

Nas águas do rio

Nas águas do rio
flutuam imagens despidas
de sonhos incompletos…

Ninguém me ouve…

O rio é somente
o meu refugio que me embala
e me deslumbra…

Ninguém me escuta…

Nas águas do rio
correm tranquilas todas
as minhas quimeras

E só eu as sei…

escuta

Escuta a profundidade da tarde
quando os pássaros
fazem seus ninhos

aspira o aroma impregnado
no azul do céu
formado tecto entre nós

sente a brisa
que nos embala os cabelos
afagando nossas penas

é quase noite
vem comigo
vamos beijar as estrelas…

destino

Saio para a tarde
Sem rumo
E sem destino
Disseram-me um dia
Que ele está traçado
Mas eu não sei
Não acredito
Não vejo
Sou eu que traço
Quando quero
Meu rumo
Meu destino
Meu pensamento
Meu desejo
E
Amarfanho ao vento
Desenho no rio
Deito ao mar
Numa garrafa fechada
E saio para a tarde
Sem rumo
À procura dele
O destino....


Lisboa,2007/03/17



(em resposta ao Vladimir)

Foto:Luis Miguel Mateus

no silêncio

no silêncio que a noite me traz
e
em que me quero só
vou adormecer com as estrelas
e
pintar os meus sonhos
com as cores do arco-iris….

Saudade em devaneio

Descobri o sabor amargo desta espera na saudade que os dias se encarregam de trazer.

Não adianta tentar mudar aquilo que parece gravado a ferro e fogo no fundo do nosso íntimo, onde por vezes tudo se transforma num caos.

As memórias que ficam no tempo levam meus passos perdidos na areia da praia que nos serenava a paixão recíproca pelo mar.

Nossos passos mergulhados nos nossos dias de liberdade em que por vezes parecíamos ter asas que nos libertavam da realidade existente em redor.

Teu corpo macio e frágil, tuas mãos entrelaçadas nas minhas.

Este sabor a sal que por vezes sinto na minha boca e que me leva a acordar para a vida e para o tempo em que voltarei a amar o teu corpo através da miragem das estrelas ciumentas numa qualquer noite de verão....

(Foto de : Paulo César)

Devolve-me o azul

Navegando num mar de antinomia
Esta ilusão
Que me tolhe a alma e os sentidos
Escorridos sem razão
Que sem querer eu procuro
No limiar duma certeza que sei
Inútil

Deixa que adormeça em mim
Tornando ténue
E
Espraiando meus sonhos
Que nem o mar quer
De tão ilusórios e contraditórios
São

Leva para sempre
Esta ilusão
Devolve-me o azul!

(foto de : Paulo César)