terça-feira, 29 de março de 2022

Hoje sinto o silêncio

Hoje sinto o silêncio a desenhar o tempo,
num frio que me estorva os movimentos,
pintando-os de vento e sombra.

É a primavera, que teimosa ausenta-se de mim ,
e esborrata-me o desenho,
que já nem é colorido nem cintilante.

O tempo equivocou-se,
as cores pálidas estão zangadas,
tresmalhadas no tempo.

Nos passos perdidos nas águas,
que inundam a rua revoltosas ,
curiosas e desprotegidas.

Caída do cimo da árvore,
além uma folha no chão,
moribunda , sem réstia de verde.

Já sucumbiu,
envergonhada e sem memória,
jaz reflectida na água estagnada.

O meu desenho hoje é apenas silêncio,
desnudo, a desenhar o tempo frio ,
que nem lembra que é primavera.
.

©Piedade Araújo Sol 2014-03-24
Imagem : Olga Domanova

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terça-feira, 22 de março de 2022

memória do amor

talvez voltemos a falar,
das tardes que pernoitaram ______nas ,
nossas recordações,
na migração dos pássaros ,
e,
talvez eu volte a redigir,
a ternura que guardei,
como um segredo ,
que o tempo destapou,
e nele encontro o restauro,
de,
em simples palavras,
aconchegar em mim,
o que ficou para além _________do tempo.

talvez______ que,
o meu poema seja,
a memória ____________do amor.

©Piedade Araújo Sol 2022-03-14
Imagem : Inês Rehberger

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terça-feira, 15 de março de 2022

Cenário para um monólogo

 

O chão de madeira tosca estendida em tábuas uniformes e gastas pelo uso.

A janela que sem cortinas espreita um dia compacto e cheio de neblina, onde as gotas de chuva, escorrem cadenciadas sobre as pedras da varanda.

No parapeito existe um aquário que paradoxalmente não tem peixes, mas, apenas e só pétalas de camélias.

Ao fundo, sobre uma mesa desarranjada um vaso de terracota com flores secas, e ruídos inaudíveis sobre o rescaldo das cenas ensaiadas.

A luz ténue de um candeeiro a petróleo. Um livro aberto, mas curiosamente com as páginas em branco, que convidam a escrever.

Um dia dum mês sem tempo definido, que lembra uma estação que não é primavera, nem verão, e, ouvem-se ao longe badaladas no relógio da velha ermida.

Abre-se o pano.
Ninguém se encontra na plateia.
O auto para um sonho de um monólogo vai começar.
© Piedade Araújo Sol

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terça-feira, 8 de março de 2022

Sou um corpo em fuga

Estirei a dor na mesa do quarto,
com delicadeza , cobri a saudade,
vesti-me de branco, a minha cor da paz,
e segui ao encontro de um abraço.

Abandonei as rotinas,
desafiei o momento, defini prioridades,
moldei as distâncias ________ sem tempos,
a não me desfazer o meu tempo.

Sou um corpo em fuga,
vou, mas___________ permaneço,
no cais das memórias,
nos acertos e desacertos,
do que ainda resta de mim.

E no cais_________ alongo a quimera,
nas horas incertas em sombras pequenas,
que desaguam sem termo,
e fico ____________ apenas,
na sombra de mim.

©Piedade Araújo Sol 2022-03-01
Imagem :SimonSiwak

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terça-feira, 1 de março de 2022

Naquele ________ outro dia

Foste o olhar que me devolveu a luz,
e a esperança envolta num murmúrio,
e na lembrança de um beijo trocado,
na candura de um sonho sonhado.

E deixei cair ________________a máscara,
apreendi o sonho, qual fogo-fátuo,
mas era meu! Foi meu ______naquele_____________ outro dia,
e perdurou nas memórias que ainda guardo de ti.

Das palavras que esquecemos de dizer,
pela urgência do momento expectável.

Sobrevive a lembrança,
de um momento do passado,
que foi nosso, e que eu não esqueci,
e nem quero esquecer.

©Piedade Araújo Sol 28-02-2022
Imagem : Taylor Rayburn

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