a dança na areia
Para C.B.
deixo-me ir, livremente abandonada, ao sabor da tarde desenhada no horizonte do sentir. vou, sem urgências, com a certeza da viagem na curiosidade do tempo e no gozo do enlaço em que me desenho no vento.
não há acordes de música e, no entanto, paira no ar a sinfonia melodiosa das marés claras.
deixo-me ir, qual livro com páginas em branco, onde as palavras alinhadas não existem, onde a estória órfã de trama não se abriu ainda. há apenas uma sombra, com uma tatuagem de orquídea na nuca, que dança no ventre da areia fina da praia, uma dança nupcial, no harém da génese das palavras, odaliscas à solta nas estrofes das marés.