Fui desafiado pelo Nilson Barcelli para me ligar à ENCRUZILHADA: compor um post em prosa/conto ou poesia com o título dos últimos 10 posts, não necessariamente na mesma ordem de publicação, usando outras palavras para dar sentido ao todo.Gostei deste desafio e seleccionei, quatro bloguistas que me pareceram ter um blogue onde podem postar algo que se enquadre neste tipo de desafio.
DESAFIADOS:
Encruzilhadas
Por vezes sinto os olhos cerrados no sonho, mas já há muito tempo que não tenho sonhos. Apenas o pesadelo me persegue e o sono não vem. Agora nunca tenho sono!
São 4 horas da madrugada!
Levanto-me da cama quente e macia. Sem pena nem certezas. Subo as escadas e vou para a biblioteca, dirijo-me à estante e procuro o teu último livro. Deixei-o lá por ordem alfabética e não está onde o coloquei. Nesta casa ninguém quer saber onde arrumam as coisas, nem por que sou tão metódica.
Abro a gaveta da secretária e vejo que está desarrumada, um autêntico caos. Mas também ali não se encontra. Fecho-a, não consigo ver coisas tão desordenadas.
Desço atabalhoadamente as escadas e preparo-me para sair.
Visto-me com o melhor disfarce que encontro no guarda-roupa, um fato de calças e casaco todo preto, como se estivesse de luto. Para contrastar, visto uma blusa branca de malha, e amarro o cabelo com um lenço preto com franjas que me caem sobre os ombros.
Escolho um batom vermelho carregado que sobressai na minha pele clara e coloco rímel bem espesso.
Olho o relógio do quarto. São 4:45 da madrugada.
Saio para a manhã que desponta sem despontar. As ruas estão calmas, sem trânsito, mas conduzo lentamente. Não tenho pressa nem intenção de chegar a lugar nenhum, vagueio apenas, mas quando me dou conta estou defronte do edifício onde trabalho.
Se alguém me vê, ainda pensa que tenho vidas duplas.
Que disparate!
O segurança, ainda sonolento, mas todo solícito, abre a porta e diz meio atrapalhado.
- Bom dia…! Hoje vem cedo! Mas ainda bem, pois tenho uma carta para si que deixaram ontem depois de ter saído.
Olho o homem, que me entrega um sobrescrito branco fechado, e reparo que ele é bonito. Ainda bastante novo, tem o cabelo preto e o olhar parece assustado. Tem olhos de cão de um castanho claro e limpo.
Titubeio um agradecimento toda envergonhada, como se ele estivesse a ler-me os pensamentos.
Quando chego à minha sala de trabalho, abro o sobrescrito. É um convite para uma festa de Natal. Sobre a mesa está o livro que procurei em casa e não encontrei.
Numa folha com o logótipo da empresa, escrevo uma carta de mim para mim a pensar em ti.
Abro o teu último livro.
Fecho!
Sinto frio!
Sinto medo!
Sinto saudades. Tantas saudades tuas
2007/12/06
(Foto:Autor desconhecido)