Guardo palavras que não digo,
omito,
e omitindo, talvez seja mais agradável,
ou então uma cobardia de fazer contornar,
realidades e memórias.
Um dia havemos de falar do tempo,
quando nada mais houver para falar,
e eu hei-de recordar-te quando o frio entrava,
pelas frestas do telhado da casa abandonada da falésia,
e das águas-furtadas onde nos escondíamos do mundo.
Talvez nem lembres, mas para mim isso já nem importa
enquanto eu não esgotar todas as minhas memórias,
haverá sempre uma luz no esplendor do delírio,
do pensamento,
a fazer eco na minha boca.
Um dia, havemos de olhar o poente,
no terceiro pontão da praia,
e com sorte, esperar os pescadores,
quando arrastarem as redes do mar,
com o peixe a transbordar.
Um dia …
©Piedade Araújo Sol 2022-07-04
Imagem : Maria Kaimaki