terça-feira, 24 de abril de 2012

Dança ao Lusco Fusco






o sol está forte
na visão que ofusca o meu olhar
para além do horizonte das ondas dos barcos
um bando de gaivotas intromete-se
num desarranjo hostil
como que picado por algum estranho motivo
e eu estremeço à sombra do rumor das suas asas
de voo imprevisível
só compreendido pelo vento.

reacendo o meu olhar
na chama veloz do crepúsculo
a morrer de ternura na água salgada de sempre
e embalo em mim a perfeição do momento
que se esvai
na tarde
e se escurece em mim sem um lamento.

é tempo de dizer adeus a mais um dia
como se eu fosse mariposa
saio da praia varina a dançar ao lusco-fusco
aclamada pelo ritmo do luar
num bailado de ave graciosa
meneio estonteante de uma bailarina que renasce
descalça e venturosa.
 .
 © Piedade Araújo Sol 2012-04-24
 Foto :LAQ

terça-feira, 17 de abril de 2012

Algures entre as palavras




Algures entre as tuas palavras,
Conquistou-me o amor que senti na raiz do teu querer.
Fiquei plena de alvoradas
Na noite em que mergulhei em brumas feitas de luz.
.
Escrevi-te quando o sol – desnecessário - ainda nem tinha nascido,
E debruava margens de rios misteriosos de prazer.
Porque eu brincava com o brilho das estrelas nos meus olhos.

Desejei conceber-te
E as minhas mãos descobriram que o teu corpo podia ser um rio
Que palmilhava abismos e desaguava em mim
Qual foz perdida num mar cheio de sal.
.
E concebi-te mesmo,
Descobri que o sorriso podia ser uníssono e que as pétalas
Podiam estar espalhadas tanto em mim como em nós.
.
Hoje – e sempre - desejo cobrir o teu corpo com beijos de mar
E abraçar o dia antes que escureça.
Quero que o nosso sonho seja um potro a cavalgar montanhas
E se metamorfoseie logo que se dilua em mim.

Autor : © Piedade Araújo Sol 2012-04-17

terça-feira, 10 de abril de 2012

Os Afetos



Arrisquei pintar-te
dissolvi aguarelas
endireitei o pincel prenhe de tinta
e apenas a luz das cores
rodopiou nos meus dedos
destrambelhados de enternecimento
e suicidou-se no ar.
.
Os afetos não se podem pintar.

.
© Piedade Araujo Sol 2010-04-10.


terça-feira, 3 de abril de 2012

Escrevi madrugadas

Escrevi madrugadas inteiras luzidas de noite
enquanto não tive o sol nos meus dedos.

Brinquei com o brilho das estrelas
e com elas bordei mapas de países ignorados
mas as minhas mãos não sabiam
que escrever é apenas uma ironia.

Muitas vezes, foi sobre as folhas
imaculadas que adormeci libelinha.
Outras vezes sobre gatafunhos
letras minhas
apesar disso inexplicáveis.

.
O tempo passou e hoje
não sonho
nem escrevo
sobre países que ainda não conheço
porque eu queria escrever sobre o meu país
e não consigo, assaltam-me as brumas
da incerteza
do medo
que nunca experimentei nos meus dedos.
E é sob os beijos deste sol
num mar de carícias azuis compassivas
mas às mãos de madrugadas inteiras
cada vez mais luzidas de noite
que me interrogo se serei louca
ao escrever, afinal, que ainda amo este País.
.
© Piedade Araujo Sol 2010-04-03.

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