omar ortiz
Dizias que eu,
quando me sentia triste, ia para casa
e escrevia um
poema.
.
Mas eu faço poemas
mesmo quando não estou triste,
escrevo apenas
palavras que brotam de mim
e que ficam ali no
papel,
apenas isso.
Amanhã, nem eu própria nem ninguém
se lembrará mais
delas, das palavras.
.
Eu escrevo insónia
e ninguém entende.
E não há motivo
aparente para entender.
E se me apetece
ligar para ti, não o faço
porque não tenho
nada para te dizer,
era só para ouvir a
tua voz, mas tu nem irias atender,
porque estás
atulhado em trabalho e eu sei que
é verdade, sei, mas
não sei se sei aquilo que penso que sei,
porque eu escrevo
insónia, e é só uma palavra.
.
Todas as noites
antes de adormecer eu escrevo um SMS,
mas não te envio.
Leio e depois apago.
Eu sei que tu
dirias que não tinhas tempo de ler
E que isso são
coisas de putos
E eu volto a
escrever insónia.
.
Ninguém sabe que a
noite pode não ser igual para todos,
pode ser terrível
de onde saem todos
os espectros que nos assolam e
nos transmitem
medo.
.
Eu escrevo medo e
ninguém tem medo.
Ninguém tem medo do
meu medo.
Ninguém quer saber
a cor do medo e afinal sou só eu
que tenho medo,
que desfio as cores
complicadas que ele emite.
E de que serve
escrever insónia?!
Ninguém se lembra…
Ninguém tem medo
das palavras que não mostro…
© Piedade Araújo
Sol 2012-10-17
(reeditado)