terça-feira, 14 de janeiro de 2025

A Poesia é um Estado de Alma

A poesia é uma toalha na mesa,
é um cobertor quente, é um sofá confortável.
A poesia é o encontro com alguém que nos aceita e completa.
Luís Rodrigues
https://brancasnuvensnegras.blogspot.com/


A poesia chega como um sopro a ciciar,
sem estações nem horas.
Surge no vislumbre, às vezes,
das nuvens abraçadas no céu,
outras vezes, a observar
papoilas dançando ao sabor do vento
em campos imensos, a perder de vista.

O olhar abarca, e o pensamento voa.
A poesia nasce num poema reluzente
ou se tece em camadas,
imbuídas de metáforas.
Outras vezes, vem em puro estado vegan,
mesclando-se à melodia.

Desenham-se bailarinas
em tons suaves de pastel,
vestidas de tule ou organza.
A poesia nasce, renasce,
em dia não, em dia sim.

Para quem a ama,
ela é a companhia que auxilia,
vive com o poeta,
dia e noite,
noite e dia.

Isso, em lume brando, é a poesia.

Autor ©Piedade Araújo Sol 2025-01-12
Imagem :Marina Skenko

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terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Hoje

Hoje quero ser apenas areia,
caminhar sem regras, sem destino.
Quero dançar com as algas,
ouvir o som do vento,
inspirar o aroma da maresia.

E não me ensinem—eu já sei:
a vida não é recta,
é feita de curvas,
contracurvas,
e de gáudios entrelaçados a pesares.

Por ora, esqueço as mágoas,
as dores que carrego,
a ingratidão, a maldade.
Em catarse, me redimo,
anónima, no grão de areia que sou

©Piedade Araújo Sol 2025-01-07
Imagem : Natalie Karpushenko

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quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Foi em Janeiro

É Janeiro de um ano que agora começou.

Hoje, como  sempre no primeiro dia do ano, sinto que o tempo me naufraga. Parece que me morres outra vez, e outra, e mais uma vez, sempre que o vento traz o perfume do mar.

É como se os barcos estivessem à deriva, apenas porque tu já  não atravessas o cais. Eles esperam, como eu espero, mas sei que não virás, nunca mais.

Gostava de ouvir novamente o eco da tua gargalhada enchendo a casa, invadindo e dançando com as ondas do mar aqui tão perto de mim.

 Mas agora há um silêncio tão profundo quanto as águas que já não navegas.

A tua voz, esse porto seguro, deixou de se ouvir há tantos, tantos anos que já nem os contabilizo. É um fato concluído, mas ainda estranho, ainda dói, a tua ausência.

As memórias desbotam com o tempo, mas a saudade brilha como uma estrela solitária reflectida no oceano, que volta todos os anos neste dia de todos os anos que se sobrepuseram, depois da tua partida não esperada. Ela pesa, não como um fardo, mas como um casco vazio que se recusa a afundar.

Sabes, pai , eu sei que é apenas o garrote da  saudade que se faz sentir, e que, mesmo agora, tantos anos depois, o teu abraço ainda me faz falta  na mesma simetria como faz falta o farol para o marinheiro perdido.

Até sempre Pai!

©Piedade Araújo Sol 2025-01-01
Imagem :David Freske

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terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Agradecimento

Antes de terminar o ano de 2024, quero deixar aqui uma palavra de gratidão e amizade a todos os que, pacientemente, reservaram um pouco do seu tempo para visitar e interagir com os seus valiosos comentários no meu espaço. Vocês são as peças fundamentais que enriquecem o meu blogue e me inspiram a continuar criando e partilhando os meus trabalhos poéticos.

Desejo que 2025 traga a cada um de vocês um fragmento de bem-aventurança, envolto em serenidade, inspiração e muita saúde.

Muito obrigada por estarem desse lado e por tornarem este caminho mais significativo.

Feliz Ano Novo de 2025 para todos, todos!

©Piedade Araújo Sol


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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Os Meninos Sem Natal

 

O Natal celebra o nascimento
do Menino Jesus.
Mas sinto um vazio imenso,
pois nem todos podem festejar.

O Natal se esvaiu na indiferença
dos senhores que semeiam a guerra,
aniquilando vidas inocentes
e deixando um rastro de dor.

Do outro lado do mundo,
lágrimas invadem nossa retina:
fragmentos de imagens cruas,
meninos sem Natal.

Dizem que é Natal,
que o Menino Jesus nasceu,
tempo de montar o presépio—
mas seria mesmo Natal?

No silêncio de mim,
montarei o presépio.
Mas, este ano, não será perfeito:
não colocarei o Menino Jesus.

Em tributo aos meninos sem Natal
©Piedade Araújo Sol 2012-12-23

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terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Dimensão da amizade

Tudo o que se disser sobre a amizade,
não caberá jamais dentro do poema,
porque ela é uma dança de nuances,
uma mistura de estações,
as cores do arco-íris,os aromas da natureza.

São primavera nas flores que brotam,
verão no calor que embala,
outono nas árvores desnudadas,
inverno no calor que aquece o frio.

Meus amigos são constelações,
ligados por fios invisíveis em mim,
são apoios inexcedíveis, são partilha,
amor e companhia ,o meu porto de abrigo imenso.

Mesmo longínquos,
os mares não apagam seus nomes
escritos no meu coração, criam memórias,
tecem laços que o tempo não desfaz.

Por isso, tudo o que escrevo sobre a amizade,
ainda é pequeno demais para contê-la,
para entrelaçar saudades, do abraço e do beijo,
e nunca caberá dentro do meu poema.

Autor  ©Piedade Araújo Sol
Imagem : Laura Zalenga

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terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Dias de recomeço

Entrei no dia com ideias coloridas, e o dia, mesmo zangado, hesitou. Respirei fundo e, em modo zen, à deriva do vento, vi suas correntes levarem nuvens pesadas, abertas ao sol.

O dia insistia em seus tons cinzentos, mas um reflexo dourado surgiu ao longe. O frio, travesso, tentou se infiltrar, mas envolvi-me em lembranças quentes. 

Sentei-me num banco de pedra, acolhida pela poesia dos dias passados, sempre perspicazes.

E enlacei a poesia que me acolhe, a cada instante, mesmo quando o mundo se afasta.

Reconheci a força das cores escondidas em mim.

Se um dia te perderes, vem. Sou invisível — mas estou. Eu, sentada, neste banco de pedra, inventando dias mais belos, e mais coloridos.

©Piedade Araújo Sol 2024-12-09
Imagem : Jonas Hafner

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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Cativa de um casulo

É no silêncio da noite que ela se liberta,
uma alma velada, presa em sombras cúmplices,
tecida de metáforas e segredos sussurrados,
nas dobras insones da escuridão,
ela inventa um voo nocturno, banhada pela lua.

Ninguém vê, ninguém ousa desvendar...
sob estrelas ofegantes, cúmplices do seu desejo,
envolta no perfume ardente da maresia,
ela transforma-se,
para além desse casulo.

Entre véus de tule e seda, dançando com o vento,
não é mais uma prisioneira.
É uma mulher que queima, que esvoaça,
que quebra o silêncio em suspiros,
e atravessa o abismo dos seus próprios mistérios.

© Piedade Araújo Sol 2024-12-02
Imagem :Josephine Cardin 

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terça-feira, 26 de novembro de 2024

_________Poesia

Disseram-me que só os poetas entendem a poesia,
pelo menos a que eu escrevo,
que era hermética e quase visceral.

Que havia ali mensagem,
encriptada com alguma arte,
mas não inteligível para todos.

Sorri e apenas contrapus,
que não gosto de definições,
nem regras ____nem sequer rimas.

Sem querer elucidar as nuances,
com que me cubro quando escrevo,
calei-me humildemente.

Nunca iria dissertar sobre o prazer,
que me satisfaz e até onde,
a poesia é capaz de me levar ligeiramente._____________

© Piedade Araújo Sol 2024-11-25
Imagem : Ilia Kisaradov

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terça-feira, 19 de novembro de 2024

sem rumo nem certezas

vamos ao sabor do vento,
sem rota nem horizontes,
navegamos sem bússola,
e apenas a incerteza nos segue,
e o mar em desatino,
e o céu em contra luz,
e o clima sem destino,
e nós, ambicionando,
abraçar o horizonte,
em sua senda de auxílio,
para que não sejamos náufragos,
neste mundo em desnorte…

© Piedade Araújo Sol 2024-11-18
Imagem : Christina Ramos

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terça-feira, 12 de novembro de 2024

Outono

 

As nuvens unidas choraram,
e o céu entornou as suas lágrimas,
em forma de chuva ______ renitente.

A terra seca agradeceu _____e no seu seio,
acolheu as águas ______ sorrindo,
pela abençoada dádiva.

O vento aquietou e repousou,
sobre as folhas ainda existentes,
na copa das árvores da praça.

O cheiro da terra molhada,
embebeu toda a natureza,
e o outono assim se anunciou.

© Piedade Araújo Sol 2024-11-10
Imagem : Brooke Shaden

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terça-feira, 5 de novembro de 2024

Teorema do Poeta

O Poeta desceu a rua sem muita convicção,
o cansaço que se apoderara no seu corpo,
como uma catadupa de receios,
além de achar anormal era desconfortável.

Para que se inquietava com coisas banais,
porque já não tinha assuntos ou segredos,
com quem compartilhar, porque a serenidade,
já desistira de o acompanhar.

Lembrou que em tempos arredados,
a sua terapia consistia em ir olhar o mar,
e as marés em contínuo ressoar,
contra as areias amarelas da praia.

E a água do mar era um céu azul,
e o céu era um mundo onde as aves esvoaçavam,
e a maresia trazia bálsamos de mar,
ficou quieto e a calma inundou todo o seu ser.

Sentou-se num banco duro de pedra,
e ali ficou a tranquilizar o corpo e a mente,
o sol parecia querer despachar o dia,
e ele absorveu o horizonte e sorriu.

E nessa noite o Poeta sonhou com as estrelas.

© Piedade Araújo Sol 2024-11-04

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terça-feira, 29 de outubro de 2024

por entre as palavras

abandonaste-me, por entre as palavras
das páginas, que entretanto abri
e que depois escrevi
no meu próximo livro.

não me levaste contigo,
não sei se te perdi, e acho que não,
porque eu nunca destruo as palavras, que te dão vida e me lembram
aromas, e onde por vezes
completamente desordenadas, consigo encontrar algum fio condutor
para as apaziguar. depois esqueço-as
pelo simples prazer de ter novamente a tarefa
para as voltar a arrumar e desarrumar.

escrevo-te no poema que dependuro na alma,
folheio-te nas passeatas junto ao mar,
e mesmo que não me levasses contigo,
eu nunca me desabriguei das letras,
com que te posso inventar, escrever, ou
simplesmente
amar.

©Piedade Araújo Sol 2013-10-28
Imagem : Christine Ellger

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terça-feira, 22 de outubro de 2024

Ilusão

o dia corre por entre caudais de segredos,
engolidos nos acasos dos mistérios insondáveis,
ludibriados numa expectativa de enganos,
  
é na noite sob os lençóis frios e  amarrotados,
que o corpo acorda em sobressalto, e adormece,
no desejo atraiçoado pela ilusão.
  © Piedade Araújo Sol 2024-10-20
Imagem :Vivienne Belini

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terça-feira, 15 de outubro de 2024

No fio das recordações

No pontão da praia tento descortinar,
um fio condutor que nasceu no meu Eu,
com vontade de ser,
e estar aqui onde respiro a cor do momento.

Questiono onde estão as minhas raízes fundas,
os amigos que partiram e nunca mais regressaram,
que suportaram meu abraço,
meu sorriso constrangido naquele momento.

E eu com este mar todo em meu olhar,
esta cor azul que me inunda fascinante,
e a maresia que me cicia incógnita,
que breve o azul se transformará em cinzento.

E deixo-me dissolver em recordações,
entrelaço fios de melancolia,
em troca de abraços e olhares,
que ainda me faltam dar e receber.

© Piedade Araújo Sol 2024-10-15
Imagem : Michelle Ellis

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