O grito
Grito com a boca cerrada
e os punhos contraídos.
e os punhos contraídos.
Mas meu grito não sai
extinguiu-se, e minha voz se perde
no eco das montanhas
confunde-se com as nuvens
que embirram em cobrir o céu.
Debato-me e imploro
Não quero
Não sou
Não estou
e engano-me
vou por onde não quero
pois nunca terei audácia
para ir por onde quero
Esta não sou eu,
é a outra.
E o grito sai trespassando a noite
que se enrodilha comigo
e em tudo o que existe
sem existir
e onde eu a outra
sem sentir
abraça o vácuo
da encenação
extinguiu-se, e minha voz se perde
no eco das montanhas
confunde-se com as nuvens
que embirram em cobrir o céu.
Debato-me e imploro
Não quero
Não sou
Não estou
e engano-me
vou por onde não quero
pois nunca terei audácia
para ir por onde quero
Esta não sou eu,
é a outra.
E o grito sai trespassando a noite
que se enrodilha comigo
e em tudo o que existe
sem existir
e onde eu a outra
sem sentir
abraça o vácuo
da encenação
©Piedade Araújo Sol 2005-09-04
Imagem : Victor Hamke
Etiquetas: Piedade Araújo Sol, poesia, Reeditado
17 Comentários:
Um bom poema que, julgo, deixa transparecer que se perdeu o caminho.
Bom Dia.
Poema magistral ilustrado por uma imagem fascinante
.
Cumprimentos
O poema ecoa no labirinto branco
da folha ou da mente.
Depende da vazante ou da enchente
(da maré da lua ou da lua da maré).
Não importa ou será crucial a assepsia
das mãos, da mente.
Em forma de grito o eu presente
inaudível cresce e desaparece
porque a outra se sobrepõe,
sub-repticiamente ou à bruta.
E a outra, e a outra, e...
sequência demolidora do eu
da identidade e da vontade.
Imprescutável fica a original alma!
Quem sou eu afinal?
Gostei, porque pulsa.
Beijo, querida Piedade.
Belo poema, Piedade. O que queremos dizer, às vezes, é tão alto, que não conseguimos soletrar todas as letras. Nos debatemos; gritamos. E seguimos encenando... sem sabermos, na maioria das vezes, quem somos...
Um boa semana!
As perguntas que ficam na mente e que "empurramos" para o lado...
Lindo...
Beijos e abraços
Marta
Muito belo!
Quantas vezes não somos o que não queremos ser, e não vamos por onde nunca quereríamos ir?!
Beijinhos.
vou por onde não quero
pois nunca terei audácia
para ir por onde quero...
Olá, querida amiga Piedade!
Precisamos ser audaciosas no bom sentido da palavra... Faz muito bem ao ��.
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno
RÉPLICA
Grito com a boca escancarada
e com os punhos erguidos
E meu grito sai
projetando-se, minha voz propaga-se
ecoando nas montanhas
dissolvendo as nuvens
descobrindo o céu, que se fez de azul
Debato-me e exijo
Não querer
Não ser
Não estar
pois me afirmo
ir para onde quero
pois sempre terei a determinação
de escolher o meu caminho
Este sou eu
e nunca serei outro
E o grito sai disparado trespassando a noite
que me abraça com a mesma ternura
com que me sorri a lua
e onde eu, eu mesmo
sentindo-me abraçando o Mundo
antes do cair do pano onde um dia
a encenação terá um fim, assim
_____________
Desculpe Sol, não resisti! Mas sempre perante um poema belo, eu não fico quieto...
Uma cala a vontade da outra.
Tantas vezes temos a sensação de ter outra em nós, segurando gritos. Silenciando desejos,invadindo nossas vontades.
Xeru
Poema tão bonito!! Parabéns!
-
Sonhava ser ...
-
Beijos, e um excelente dia
poema maior. de recorte "modernista", na cisão da Poeta entre o "Eu e o Outro/a"
gostei muito, Piedade!
Beijo
Dois cantos, uma vontade, um único ser. A ousadia e o temor em uma luta sem vencedor.
Aplaudo você, como sempre. Bjs.
Há gritos assim.
E poemas que encantam o leitor.
Gostei muito.
Bom fim de semana, querida amiga Piedade.
Beijo.
Belíssimo grito, Piedade!
Forte abraço!
Boa tarde Piedade,
Um poema belo e profundo!
Tantas vezes os gritos abafados se confundem no nosso eu não nos deixando ser quem somos.
Um beijinho e continuação de uma boa tarde domingo.
Ailime
às vezes cada instante é a metamorfose de uma asfixia interior. Por isso cada palavra tem o som de um grito.
Uma boa semana com muita saúde, minha Amiga Piedade.
Um beijo.
Confesso que não gosto de gritos nem ao vivo, nem pintados (Munch), mas os gritos
estrangulados são os que doem, a mim, mais.
Por isso, gritar, nem que seja com o outro "eu",
talvez seja uma grande libertação (se não for encenação). Nunca experimentei.
O Poema levou-me a uma "visão" muito própria, que não deve estar no seu espírito.
A Poeta que me perdoe, pela liberdade da opinião.
Quem sabe o que vai na alma de quem escreve um poema tão denso, como belo?
Um beijo,Pi
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