Diálogo ou monólogo comigo mesma
(imagem :Ruslan Bolgov)
Não me
perguntes nada acerca de ontem ou o que comi ao almoço.
Para
quê, nem te vou contar!
Acordei
e só me apetecia ficar na cama
Mas a
meu lado estava alguém
Que me
pareceu a tristeza
Essa
vilã camuflada
Que de
vez em quando quer calcular
Forças
comigo, mas está tramada
Porque
eu não deixo.
Faço das
tripas coração,
mas não quero que ela me abata.
Então! E
como já eram horas de almoço
Dei um
salto da cama para o chão
Que
quase partia um pé
Respirei
fundo e meti-me debaixo do duche
Cantando
como um pássaro desafinado
Que até
tive receio o vizinho do 4ºandar
Não
viesse reclamar, enfim, se viesse
Não lhe
abria a porta
Abri o roupeiro
e tirei o vestido vermelho
Vesti-o
e achei, que me está um pouco largo
E que
ficava com um decote indecente
Mas não
me importei
Não ia
na CP não havia problemas
De me
chamarem a atenção para as mamocas
Calcei
os sapatos de salto alto
E saí
para o dia
Desci a
Avenida da
Liberdade
E o meu
almoço foi
Um sumo
de laranja e uma tosta mista
Soube-me
tão bem como se estivesse
A
almoçar num daqueles restaurante de Cascais
Onde me
costumavas levar
Sabes…
quando tomei o café (sem açúcar)
Lembrei-me
de ti, e vi a sombra da tristeza
A querer
sentar-se a meu lado
Paguei a
conta
Sacudi
os cabelos e desci a Avenida
Com o
meu vestido vermelho
Os meus
saltos altos
E um
sorriso maior que o sol
Sorrindo
para fora
E
chorando para dentro
©Piedade Araújo Sol 2020-09-13
inspirado aqui : https://brancasnuvensnegras.blogspot.com/2020/09/dialogo-comigo-mesmo-nao-me-perguntas-o.html#comment-form
Etiquetas: Piedade Araújo Sol, poesia
20 Comentários:
Um poema que fala de saudade e que tive o privilégio de ver nascer num espaço perto. Gostei.
Boa noite
Bom dia de paz outonal, querida amiga Piedade!
Sorrir por fora e chorar por dentro é inerente aos semsiveis.
Muito emocionante e real o poema conto.
Tenha uma nova Estação abençoada!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Tenho muitos diálogos ou monólogos comigo mesma sempre.
E como diz o poema,os dias que me arrumo mais,são os mesmos dias que me sinto nada por dentro.
Tocante Sol 💛💜
Xeru
Não tenho
nada de vermelho vestido
mas é assim que me sinto
chorando, por dentro
e, por fora, sorrindo
Gostei muito deste seu diálogo/monólogo versejado em prosa, ou proseado em verso, mas que não deixa de ser um poema, Piedade!
Beijinho grande
Não bastava dormir com o inimigo
ainda o tinha de encontrar a querer
almoçar…
Era um dia 13, mas o azar foi passageiro.
Gostei desta descrição onde o Poema
esta' dentro de um vestido vermelho.
Um beijo, Amiga Pi
Por vezes precisamos de falar com nós mesmos. Não é maluquice mas sim necessidade.
Gostei muito do poema. Deliciosa interiorização pessoal. Muito bonito.
.
Cumprimentos Outonais.
Um desafio à tristeza....
Lindo..
Beijos e abraços
Marta
Um vestido vermelho, saltos altos, um sorriso a adornar o cenário, enquanto a alma permanece na penumbra.
Talvez o final da avenida leve ao cais das descobertas, Piedade.
Um beijinho :)
Um poema muito rico!! Parabéns:))
-
O medo que espreita ...
-
Beijos, e um excelente dia! :)
Uma manifestação de vida, com todos os obstáculos que a vida acarreta, e que nos vamos sabendo contornar.
Da que pensar
Quem dera aprisionar a essência do poema quando plasma com esmero alegoricamente as lembranças no vermelho do vestido...
É a minha legenda para o belo poema!
Uma boa noite, Piedade!
Prosa poética encantadora. Não permitir a aproximação da tristeza e ainda caminhar com "um sorriso maior que o sol" é sinal de força e determinação. As lágrimas internas, que fiquem lá dentro. Bjs.
Olá! É um poema com o qual qualquer pessoa de alguma forma vai se identificar ao ler, afinal creio que todo mundo se sente um pouco dessa forma às vezes, especialmente como nos últimos versos. E nosso universo interior é tão amplo quanto o universo que nos rodeia com suas diferentes cores. Um abraço.
Pior mesmo só sorrir por dentro e chorar por fora...
Belo poema, gostei muito.
Bom fim de semana, querida amiga Piedade.
Beijo.
Olá, Piedade Sol
Na cadeira de depois do almoço o estimulo. Sentado.
Na pele o sol de outonal tom
nos ouvidos melómanos balança o som
E os olhos? Esses, caem inteiros
no poema. A poesia
tem coisas que uns dizem inspirações. Dirá o poeta transpirações.
Mas, no pasmo ou subtileza dum simples verso,
conchas na areia da praia marcam
a sintomologia da cor que o habita
a casa e no âmago as cambiantes
os pigmentos de euforia, ardor, amor, desalento, desespero, solidão, abismos, manhãs, noites.
Com quantos dorme o vestido da aparência,
quantas peles no mesmo corpo?
Desbridando o arrepio, o golpe, a ferida as mãos.
Entre o abrir e o fechar da porta,
entre o subir e o descer do elevador,
as escadas tão diferentes para quem desce e para quem sobe.
Entre a bainha e o decote que desce e sobe
o vermelho rubor das faces.
"Desci a avenida com o meu vestido vermelho
Os meus saltos altos
(as pernas mais altas)
e um sorriso maior que o Sol
(irresistível)
sorrindo para fora
e chorando para dentro".
Quem diria, na mesma cama
em que dormem tantos eus!
Vale mil leituras.
Beijo, Piedade.
Hermoso poema que tenga una buena semana Cuídate mucho Saludos
Tinhas um vestido vermelho e todos te olhavam com ar de delírio, mas só amaste a sombra que contigo se deitou e te entristeceu...
Magnífico poema!
Uma boa semana com muita saúde.
Um beijo.
Retribuindo o comentário de 22 de Junho no A Vivenciar, que agradeço.
É um estratagema que por vezes, funciona muito bem... O vermelho é uma cor poderosa!
Um poema muito belo e expressivo.
Uma boa semana e que tudo lhe corra pelo melhor.
Beijinhos
~~~~~
A alma está a um passo do azul e apesar disso é transparente.
Bonito o poema e o espaço. Voltarei. Bj
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial