terça-feira, 22 de setembro de 2020

Diálogo ou monólogo comigo mesma

(imagem :Ruslan Bolgov)
Não me perguntes nada acerca de ontem ou o que comi ao almoço.
Para quê, nem te vou contar!

Acordei e só me apetecia ficar na cama
Mas a meu lado estava alguém
Que me pareceu a tristeza
Essa vilã camuflada
Que de vez em quando quer calcular
Forças comigo, mas está tramada
Porque eu não deixo.

Faço das tripas coração,
mas não quero que ela me abata.

Então! E como já eram horas de almoço
Dei um salto da cama para o chão
Que quase partia um pé
Respirei fundo e meti-me debaixo do duche
Cantando como um pássaro desafinado
Que até tive receio o vizinho do 4ºandar
Não viesse reclamar, enfim, se viesse
Não lhe abria a porta

Abri o roupeiro e tirei o vestido vermelho
Vesti-o e achei, que me está um pouco largo
E que ficava com um decote indecente
Mas não me importei
Não ia na CP não havia problemas
De me chamarem a atenção para as mamocas

Calcei os sapatos de salto alto
E saí para o dia

Desci a Avenida da Liberdade
E o meu almoço foi
Um sumo de laranja e uma tosta mista
Soube-me tão bem como se estivesse
A almoçar num daqueles restaurante de Cascais
Onde me costumavas levar

Sabes… quando tomei o café (sem açúcar)
Lembrei-me de ti, e vi a sombra da tristeza
A querer sentar-se a meu lado

Paguei a conta
Sacudi os cabelos e desci a Avenida
Com o meu vestido vermelho
Os meus saltos altos
E um sorriso maior que o sol

Sorrindo para fora
E chorando para dentro

©Piedade Araújo Sol 2020-09-13

inspirado aqui : https://brancasnuvensnegras.blogspot.com/2020/09/dialogo-comigo-mesmo-nao-me-perguntas-o.html#comment-form


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20 Comentários:

Blogger brancas nuvens negras disse...

Um poema que fala de saudade e que tive o privilégio de ver nascer num espaço perto. Gostei.
Boa noite

terça-feira, 22 setembro, 2020  
Blogger Roselia Bezerra disse...

Bom dia de paz outonal, querida amiga Piedade!
Sorrir por fora e chorar por dentro é inerente aos semsiveis.
Muito emocionante e real o poema conto.
Tenha uma nova Estação abençoada!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

terça-feira, 22 setembro, 2020  
Blogger Valdelice Nunes disse...

Tenho muitos diálogos ou monólogos comigo mesma sempre.
E como diz o poema,os dias que me arrumo mais,são os mesmos dias que me sinto nada por dentro.
Tocante Sol 💛💜
Xeru

terça-feira, 22 setembro, 2020  
Blogger Rogério G.V. Pereira disse...

Não tenho
nada de vermelho vestido
mas é assim que me sinto
chorando, por dentro
e, por fora, sorrindo

terça-feira, 22 setembro, 2020  
Blogger Maria João Brito de Sousa disse...

Gostei muito deste seu diálogo/monólogo versejado em prosa, ou proseado em verso, mas que não deixa de ser um poema, Piedade!

Beijinho grande

terça-feira, 22 setembro, 2020  
Blogger LuísM Castanheira disse...

Não bastava dormir com o inimigo
ainda o tinha de encontrar a querer
almoçar…
Era um dia 13, mas o azar foi passageiro.
Gostei desta descrição onde o Poema
esta' dentro de um vestido vermelho.
Um beijo, Amiga Pi

terça-feira, 22 setembro, 2020  
Blogger " R y k @ r d o " disse...

Por vezes precisamos de falar com nós mesmos. Não é maluquice mas sim necessidade.
Gostei muito do poema. Deliciosa interiorização pessoal. Muito bonito.
.
Cumprimentos Outonais.

terça-feira, 22 setembro, 2020  
Blogger Marta Vinhais disse...

Um desafio à tristeza....
Lindo..
Beijos e abraços
Marta

terça-feira, 22 setembro, 2020  
Blogger AC disse...

Um vestido vermelho, saltos altos, um sorriso a adornar o cenário, enquanto a alma permanece na penumbra.
Talvez o final da avenida leve ao cais das descobertas, Piedade.

Um beijinho :)

terça-feira, 22 setembro, 2020  
Blogger Cidália Ferreira disse...

Um poema muito rico!! Parabéns:))
-
O medo que espreita ...
-
Beijos, e um excelente dia! :)

terça-feira, 22 setembro, 2020  
Blogger Porventura escrevo disse...

Uma manifestação de vida, com todos os obstáculos que a vida acarreta, e que nos vamos sabendo contornar.
Da que pensar

terça-feira, 22 setembro, 2020  
Blogger José Carlos Sant Anna disse...

Quem dera aprisionar a essência do poema quando plasma com esmero alegoricamente as lembranças no vermelho do vestido...
É a minha legenda para o belo poema!
Uma boa noite, Piedade!

quarta-feira, 23 setembro, 2020  
Blogger MARILENE disse...

Prosa poética encantadora. Não permitir a aproximação da tristeza e ainda caminhar com "um sorriso maior que o sol" é sinal de força e determinação. As lágrimas internas, que fiquem lá dentro. Bjs.

quarta-feira, 23 setembro, 2020  
Blogger Ulisses de Carvalho disse...

Olá! É um poema com o qual qualquer pessoa de alguma forma vai se identificar ao ler, afinal creio que todo mundo se sente um pouco dessa forma às vezes, especialmente como nos últimos versos. E nosso universo interior é tão amplo quanto o universo que nos rodeia com suas diferentes cores. Um abraço.

quarta-feira, 23 setembro, 2020  
Blogger Jaime Portela disse...

Pior mesmo só sorrir por dentro e chorar por fora...
Belo poema, gostei muito.
Bom fim de semana, querida amiga Piedade.
Beijo.

sábado, 26 setembro, 2020  
Blogger Agostinho disse...

Olá, Piedade Sol
Na cadeira de depois do almoço o estimulo. Sentado.
Na pele o sol de outonal tom
nos ouvidos melómanos balança o som
E os olhos? Esses, caem inteiros
no poema. A poesia
tem coisas que uns dizem inspirações. Dirá o poeta transpirações.
Mas, no pasmo ou subtileza dum simples verso,
conchas na areia da praia marcam
a sintomologia da cor que o habita
a casa e no âmago as cambiantes
os pigmentos de euforia, ardor, amor, desalento, desespero, solidão, abismos, manhãs, noites.

Com quantos dorme o vestido da aparência,
quantas peles no mesmo corpo?
Desbridando o arrepio, o golpe, a ferida as mãos.

Entre o abrir e o fechar da porta,
entre o subir e o descer do elevador,
as escadas tão diferentes para quem desce e para quem sobe.
Entre a bainha e o decote que desce e sobe
o vermelho rubor das faces.

"Desci a avenida com o meu vestido vermelho
Os meus saltos altos
(as pernas mais altas)
e um sorriso maior que o Sol
(irresistível)
sorrindo para fora
e chorando para dentro".
Quem diria, na mesma cama
em que dormem tantos eus!

Vale mil leituras.

Beijo, Piedade.

domingo, 27 setembro, 2020  
Blogger José Ramón disse...

Hermoso poema que tenga una buena semana Cuídate mucho Saludos

domingo, 27 setembro, 2020  
Blogger Graça Pires disse...

Tinhas um vestido vermelho e todos te olhavam com ar de delírio, mas só amaste a sombra que contigo se deitou e te entristeceu...
Magnífico poema!
Uma boa semana com muita saúde.
Um beijo.

segunda-feira, 28 setembro, 2020  
Blogger Majo Dutra disse...

Retribuindo o comentário de 22 de Junho no A Vivenciar, que agradeço.

É um estratagema que por vezes, funciona muito bem... O vermelho é uma cor poderosa!
Um poema muito belo e expressivo.

Uma boa semana e que tudo lhe corra pelo melhor.

Beijinhos
~~~~~

segunda-feira, 28 setembro, 2020  
Blogger George Sand disse...

A alma está a um passo do azul e apesar disso é transparente.
Bonito o poema e o espaço. Voltarei. Bj

quinta-feira, 29 outubro, 2020  

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