terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

As galochas amarelas


Há muitos anos, a minha mãe ofereceu-me
umas galochas amarelas – eram lindas.
Usava-as quando chovia,
com meias brancas de corações encarnados.

Nessa altura, desenhava em tudo o que encontrava
e refugiava-me nas águas-furtadas
com o meu amigo imaginário,
a quem chamei Set.

Sobre a mesa onde estudava,
um desenho dele pendia da parede,
e conversávamos
coisas que só ele entendia.
Embora imaginário, era real para mim.

Um dia, pensei que também precisaria de galochas.
Pedi outras à minha mãe.
Ela, astuta, perguntou porquê.
Fiz birra – queria umas pretas.

Ganhei-as.
Coloquei-as ao lado do desenho.
Nunca as calcei. Eram do Set.
A mãe, sempre atarefada,
nunca descobriu o meu segredo.

Nunca soube do Set.

Autor  © Piedade Araújo Sol 2025-02-24
Imagem : Jessica Drossin

Etiquetas: , ,

2 Comentários:

Blogger Marta Vinhais disse...

Quem sabe se o Set não passeava com as galochas quando ninguém o via?
Há segredos inconfessáveis...que nos ajudam a " atravessar" a vida....
Beijos e abraços
Marta

terça-feira, 25 fevereiro, 2025  
Blogger Toninho disse...

Que linda história da imaginação e das memórias que nos acompanham pela. As chuvas sempre despertam poesias para quem pôde andar sob elas, calçados ou não, brincando pela enxurrada com os barquinhos ou uma lata por ela levada. E aí o amiguinho surge em nossa companhia e temos está lindeza amiga
Lindo de ler e criar as imagens.
Bjs

terça-feira, 25 fevereiro, 2025  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial