As galochas amarelas
Há muitos anos, a minha mãe ofereceu-me
umas galochas amarelas – eram lindas.
Usava-as quando chovia,
com meias brancas de corações encarnados.
Nessa altura, desenhava em tudo o que encontrava
e refugiava-me nas águas-furtadas
com o meu amigo imaginário,
a quem chamei Set.
Sobre a mesa onde estudava,
um desenho dele pendia da parede,
e conversávamos
coisas que só ele entendia.
Embora imaginário, era real para mim.
Um dia, pensei que também precisaria de galochas.
Pedi outras à minha mãe.
Ela, astuta, perguntou porquê.
Fiz birra – queria umas pretas.
Ganhei-as.
Coloquei-as ao lado do desenho.
Nunca as calcei. Eram do Set.
A mãe, sempre atarefada,
nunca descobriu o meu segredo.
Autor © Piedade Araújo Sol 2025-02-24
Imagem : Jessica Drossin
Etiquetas: Direitos de autor, Piedade Araújo Sol, poesia
15 Comentários:
Quem sabe se o Set não passeava com as galochas quando ninguém o via?
Há segredos inconfessáveis...que nos ajudam a " atravessar" a vida....
Beijos e abraços
Marta
Que linda história da imaginação e das memórias que nos acompanham pela. As chuvas sempre despertam poesias para quem pôde andar sob elas, calçados ou não, brincando pela enxurrada com os barquinhos ou uma lata por ela levada. E aí o amiguinho surge em nossa companhia e temos está lindeza amiga
Lindo de ler e criar as imagens.
Bjs
Belíssimo poema/narrativa abordando uma memória que te marcou!
Tenho no meu baú de recordações ,uma gavetinha onde guardo memórias de infância salpicadas de fantasias que vivia como se fossem reais.
A vida sem sonhos e fantasias é monótona.
Adorei o teu poema.
Parabéns,Pity.
Beijinho.😘
Boa tarde de paz, querida amiga Pity!
Nossa! Quantas lembranças me trouxe!
Tive galochas e eram pretas para ir ao colégio em dias de chuva e lama.
Lendo seu poema, me reportei ao livro Meu Pé de Laranja Lima... como temos amigos imaginários pela vida afora...
Gostei de vir agora aqui onde estou criando também. Alimentou minha inspiração ainda mais.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos fraternos
Sem banalizar
o que acaba de me encantar
deixo dito
que a mim também aconteceu isto
só que minha amiga imaginária
calçou mesmo as galochas
Beijo criativo
Boa noite Pity,
Que poema de memórias tão belo!
Enquanto lia imaginei também tudo o que a poesia ia transmitindo e senti-me transportada no tempo, para junto dos personagens.
É bom ter algumas fantasias e sonhos que nos ajudem a desligar, dos tempos conturbados que atravessamos.
Beijinhos e continuação de boa semana.
Emília
Esse é o amigo que a acompanhará até ao fim.
Um abraço.
Bello poma. Te mando un beso.
Que linda são nossas memórias, algumas guardamos com tanto carinho que um dia, bem mais tarde, trazemos mais juntinho de nós. Lembrei de minhas galochas, também, não faz muito tempo que lembrei delas, hoje não existem mais galochas! Pelo menos aqui no Brasil.
Amei teu poema, querida Piedade.
Beijinho.
Recordação poética linda de ler. Gostei muito
.
Saudações poéticas
.
“” Amar, apenas amar ““
.
Todos necesitamos a ese amigo que sepa escuchar, que no se enfade nunca y que nos comprenda, tu imaginación ha encontrado a Set y me parece algo entrañable que no olvidarás jamás.
Buen fin de semana.
Ha sido un placer leer tu entrada.
Cariños.
Kasioles
Que bacana!
Isso que é um amigo imaginário bem tratado! Merecia ele as galochas.
Boa tarde Piedade
Interessante post. Todos nós tivemos na infância algo que adoramos, ou pelo contrário, detestamos. Faz parte na nossa vivência existencial.
Gostei deste belo poema sobre as galochas amarelas.
Deixo os votos de um bom fim de semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
Boa noite Piedade,
Passando por aqui, para desejar um feliz Carnaval e ótima semana, com tudo de bom.
Beijinhos, com carinho e amizade.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
Os amigos imaginários são muito bons, pois são o que nós queremos que sejam...
Excelente poema, gostei imenso.
Boa semana.
Beijos.
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