Morre-se de solidão no meu país
A solidão prolongada
Em forma de sombras
Neutras
Esbatidas
Infiltrada nas paredes
das casas fechadas – com gente dentro
e a noite a fechar o dia mais uma vez
duas vezes – muitas vezes.
.
e morre-se devagar no meu país
.
e a noite a fechar o dia mais uma vez
duas vezes – muitas vezes.
.
e morre-se devagar no meu país
.
as árvores no outono estão nuas – esquálidas
no Inverno o frio magoa os ossos e a alma
no Inverno o frio magoa os ossos e a alma
mas talvez os melros cantem antes da próxima primavera
se o verão chegar todos os dias
no sol de uma tigela de sopa fraterna
.
morre-se devagar no meu país
.
e depressa tudo se esquece.
se o verão chegar todos os dias
no sol de uma tigela de sopa fraterna
.
morre-se devagar no meu país
.
e depressa tudo se esquece.
.
Nota: faltam dados estatísticos para os idosos que morrem sós em casa
© Piedade Araújo Sol 2011-11-14
Foto : Ego.
35 Comentários:
Morre-se mesmo muito devagar...
Excelente poema. Parabéns, querida amiga.
Beijos.
Morre-se de solidão e de fome
no nosso País. É uma grande
tristeza que no final da vida
para muitos reste o abandono
total...
Beijinho
Irene
Um olhar tão real sobre a morte a sós...a dos nossos idosos...e também a de tanta gente que por vezes acompanhada no dia-a-dia, se sente imensamente só...resta-nos um olhar com olhos de ver e ser visto. Beijinhos ;)
Infelizmente, esse é um problema da atualidade. Aqui, já não nos chamamos um país de jovens e a vida, que é muito mais difícil, com mais idade, ainda merece desatenção por parte de família e autoridades.
Bjs.
Não deixei que os meus Pais morressem sozinhos...Estive com eles até ao fim...
Mas sei que há quem os deixe tão sós e a dor na alma é tão profunda....
Belo...
Obrigada pela visita....
Beijos e abraços
Marta
Morre-se de solidão no meu país, uma terra de muito e em que os predadores vivem cercados de muros.
Beijo :)
o meu coraçâo chorou de tristeza
fico em silencio
um beijo!!
Infelizmente assim é...morre-se e ninguém dá por isso...passam as estações do ano...como passam as vidas!
Te abraço.
Bj
...e a pior solidão é daquele que, mesmo no meio da multidão, se sente só.
Olá! Tenho um convite no meu blog!
A solidão bate em tantas portas, Pi! Mas a solidão em alguns casos é tao devastadora, que só a morte salva! Doloroso, cruel, mas real.
Enquanto leio aqui esse seu poema-denúncia, uma lágrima furtiva me acode para eu não me engasgar.
Solidarizo-me convosco, minha querida amiga. Além de lhe informar que no meu país, apesar do mito da alegria, a solidão também mata os nossos velhos, jovens... A solidão mata-nos a todos, na matéria e na alma!
Um beijo!
Um poema sentido, desconsolado e muito veradeiro!
Partilhei o sentimento... fui tocado por ele.
O poema é muito pertinente porque toca um ponto frágil da nossa sociedade que é o isolamento dos idosos, o isolamento daqueles que depois de se darem a um país, a uma família, se veem arrumados como se fossem trapos velhos.
Refletir é preciso!
Bem-haja.
Um beijo
a pior solidão
não é estar só
é saber que os outros não nos batem à porta
poema de uma realidade torta e dolorosa, Piedade
um beijo
belo e triste (e pior de tudo, real).
beijinho Piedade
Poema tão doído que estremeço ao ler verso a verso.
Uma triste realidade " morre- se devagar no meu país".
Saudades em ler- te, Piedade.
Beijo.
Maria Valadas
Um belíssimo poema e fotografia a lembrar e muito bem uma realiddae cada vez mais triste neste país.
Faltam estruturas de apoio aos idosos e as poucas que existem, são a maior parte por iniciativa de particulares, umas sérias, outras autêntica e fruto de cruel exploração.
Beijinhos para ti.
Branca
Morre-se devagar no meu país
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Uma consequência de se 'ter nascido'. E contra isso nada podemos.
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Que a felicidade ande por aí.
Manuel
morre-se em silêncio
Bj
Que beleza! poema e imagem.
os velhos...
quando tiver mais idade não desejo ser idoso...
velho...
e desejo ficar na minha casita a ver a serra,,,, a ver a serra não vou morrer só...
abrazo serrano com aliança
Piedade
Infelizmente o teu grito tem plena verdade.
A indiferença como é olhada a morte dos involuntários solitários, leva e transporta-nos a um Mundo que se recusa a VER que os que partem, levam uma Mais Valia de Vida que raramente foi aproveitada.
Morre-se lentamente!...
Beijos
SOL da Esteva
http://acordarsonhando.blogspot.com/
Está-nos nas mãos a sopa fraterna que afasta o inverno na alma e impede que se morra e se esqueça...
Obrigada Piedade por re-lembrar.
Beijo
....morre-se...de abandono
Brisas doces*
"morre-se devagar no meu País" - dói de tão verdadeiro.
excelente
beijo
Infelizmente, quando mais se precisa de atenção (depois de tanta atenção ter dado) os idosos encontram apenas um certo ar de peso, de deslocamento, de abandono...Geralmente, morrem na solidão, mesmo que esteja junto dos parentes, que os veem como incapacitados para opinar, para argumentar e para aconselhar, ou até para falar... Não há pior solidão em que sentimos falta de nós mesmo e dos outros.
Obrigada pela visita, muito bom seus textos Piedade.
Beijokas
.
.
. a poesia tem . por vezes . este cunho assertivo . esta especificidade própria . que por um lado lamenta na consoante e por outro grita na vogal . onde me vogalizo . por ora .
.
. por.que é tão verdade o que encontro aqui hoje . por.que a solidão dos idosos representa um estádio vegetativo na arena corpórea de uma vida quase inteira . in.corpórea .
.
. que logo se esquece . após a partida . tal como se esqueceu antes ainda . e . ainda assim . há tanto tão adiada .
.
. comovo.me . e não sei dizer mais nada .
.
.
.
. um beijo .
.
.
Morre-se, Piedade! A idade faz da solidão um país particular... e infinitamente triste! :( Boa semana, amiga; belo poema!
mais um comentario para ninguem se sentir só
:)
abrazo serrano
Morre-se sim e vive-se também. Muito bonito.
Beijinho
Querida amiga, tem uma óptima semana.
Beijos.
E de tristeza também...
Obrigado pela visita.
ADOREI, Piedade. Morre-se sim, no nosso país. Nem sei que Primaceras alegres iremos ter futuramente.
jinhos
Verdade triste... Nem sempre nos lembramos da solidão como flagelo, não está nos livros de medicina, mas vem devagar e de facto instala-se anónima nas estatísticas...
Este belo poema foi lido no project de declamação poética InVersos. Pode encontrar o video em http://InVersos.pt.vu!
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