terça-feira, 4 de março de 2025

Memórias do Silêncio

 

Até hoje não sei porquê,
naquele dia descalcei as sandálias
e, de pés nus, deambulei pela orla da praia,
perseguindo as gaivotas
no seu voo exagerado.

Não sei quando a aflição,
que se entranhava em mim,
se fez alheamento,
cogitando saídas,
seguindo trilhos desconhecidos.

Talvez já não me interesse saber
quando a cidade grande me abandonou,
quando o seu fulgor — que fora paixão — deixou de seduzir-me
e, como um silêncio estrondoso,
me desamparou nas ruelas partilhadas.

Não é tarde, mas a solidão e o desencanto
fizeram parceria que não quero decifrar,
e de cada metade ficou este silêncio alongado
sobre a epiderme, enquanto a mente entorpecida
deambula apenas pelas memórias do silêncio.

Autor : ©Piedade Araújo Sol
Imagem : Sanya Komenko

Etiquetas: , ,

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial