Por vezes
Marcela Bolívar
Por vezes ainda espreito empoleirada sobre a cadeira
Velha e a cair de caruncho
Através do postigo do quarto da casa grande
E procuro o teu nome nas estrelas
E no chilrear do canto do melros pela manhã
Velha e a cair de caruncho
Através do postigo do quarto da casa grande
E procuro o teu nome nas estrelas
E no chilrear do canto do melros pela manhã
A casa grande envelheceu
E embora os cânticos e os aromas ainda sejam parecidos
Já não são como eram no tempo
Em que não existia solidão
E a saudade
Não tinha lugar e nem pousio certo
Já não são como eram no tempo
Em que não existia solidão
E a saudade
Não tinha lugar e nem pousio certo
Envelhecemos sem saber
E as palavras envergonhadas foram encerradas
Nas gavetas semiabertas dos móveis
Estranhamente
Inventei o teu nome nos arbustos
Que todos os anos se inundam de flores silvestres
Nas gavetas semiabertas dos móveis
Estranhamente
Inventei o teu nome nos arbustos
Que todos os anos se inundam de flores silvestres
E não me perguntam: - porque
Mas, tudo ainda lembra o teu nome.
©Piedade Araújo Sol
2018/06/04
17 Comentários:
Piedade ... perante uma imagem interessante o seu poema resplandeceu em bela e boa partilha!
bj
Lindo e intenso poema!! Amei!
Beijo e um excelente dia.
Belíssima imagem nos trazes em dupla apresentação.
"Estranhamente" soltam-se porque são etéreas as palavras que libertas do fundo da tua construção. As paredes é que não. Por mais obras de renovação, que é a forma inventada de ilusão de fugir ao tempo: a memória nunca trai, mesmo que roída pelo caruncho.
Há sempre um gosto, especial, no toque de Sol.
Bj.
Contrastes entre o ver e o ouvir.
.
* Coração em labaredas vulcânicas. *
.
Deixando um abraço poético
Porque o nome está sempre presente... apesar de tudo... da solidão, da tristeza, da velhice...
Estranhamente... ainda há vida...
Lindo...
Beijos e abraços
Marta
As casas envelhecem sempre
os cânticos e os aromas, esses, são eternos
Assim acontece, Piedade, quando se vive um grande amor: tudo nos lembra o nome querido! Belo post, boa semana.
As casas envelhecem aos nossos olhos, não nas nossas recordações.
Um poema lindíssimo.
Abraço
Olá, Piedade!
Gostei imensamente de seu poema "Por Vezes", belo e inspirado poema. Parabéns.
Boa semana.
Beijo.
Pedro
Há memórias que jamais se desvanecem...
Adorei o teu poema, como toda a escrita que vem da tua alma...
Beijinhos*
Fanny Costa
Um nome gravado na vida
Há nomes que não se desmoronam
mesmo que as casas caiam
Que lindo...
A casa grande e nós podemos envelhecer, mas as lembranças e a saudade, essas vejo que não! Estão sempre presentes.
Muito bonito, Piedade!
Beijo!
Saber o rumor de um nome, como um pressentimento de presença… Magnífico, o poema!
Uma boa semana, Piesade.
Um beijo.
Um poema lindo e tocante... abordando a passagem do tempo e a saudade...
Adorei cada palavra, Piedade!...
Para ler e reler!... E apreciar a conjugação com a imagem, que não poderia corresponder melhor, ao espírito do poema...
Beijinhos
Ana
Na arte de envelhecer-se aprende-se que as coisas lindas não findam.
Beleza Piedade de fotografia e inspiração em reflexão sem angustia, mas de uma saudade infinita.
Beijo amiga.
É sempre assim. Reconhecemos que há elipses, alusões, linguagem sintética que, por vezes soa estranha, para quem a ouve, para que a lê, mas não para quem a sente. É assim a linguagem da poesia que transfigura o instante, este é o mundo próprio da poesia, que só os iniciados como você, conseguem essa altitude no voo, tal como você o fez neste poema! Poema grandiosos!
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