terça-feira, 14 de novembro de 2017

a lengalenga das mãos

Istvan Sandorfi
Eu podia pegar nas tuas mãos e dizer-te palavras bonitas e sei que elas já não significam nada.

Naquele outro tempo, eu pegava na tua mão e ela segurava a minha, assim, como se fossem as duas uma só.

E hoje as tuas mãos devem segurar outras que se encaixam nas tuas, como as minhas, um dia se encaixaram.

E eu podia escrever textos e cartas e até poemas, com palavras belas e cheia de ternura, mas eu não sei se alguma vez, o significado que eu lhe daria, seria compreendido por alguém.

E eu sei que a vida é bela, e não sei porque, às vezes, eu vejo a vida a passar e fico para aqui alheada dela.

Queria escrever que a felicidade é sentir que a solidão afinal pode ser compartilhada, e que as minhas mãos por vezes ainda sentem o calor das tuas, embora os meus dedos, já não se entrelaçam nos teus, e, penso que elas, as tuas mãos continuam macias e levam outras mãos a caminhar pelas palavras bonitas que eu podia dizer e que sei escrever e que talvez hoje já não significam nada...

© Piedade Araújo Sol 2007-01-11

26 Comentários:

Blogger Larissa Santos disse...

Bom dia. Uma prosa muito bonita repleta de sentimento. A música de fundo enche-nos a alma. Adorei

Bjos
Boa Terça-Feira.
Hoje o tema é meu lá no "Brincando"

terça-feira, 14 novembro, 2017  
Blogger Cidália Ferreira disse...

Que bonito!! Amei

Beijo e um dia feliz.

terça-feira, 14 novembro, 2017  
Blogger Agostinho disse...

"Eu podia pegar nas tuas mãos", começa, assim, a Poeta numa sinfonia primava de mãos (sempre a houve em triliòes de leituras e interpretações), colocando em linha, como se de um baixo contínuo se tratasse, notas e pausas colocadas em pauta.
Mãos que muito dizem, mas há o comunicar que fica no limbo do simbólico: o que as palavras não podem expressar: são coisas no campo do indizível.
Tanto! Muito mais do que aparentam, comunicam. Muito mais as mãos sabem. Porque nas mãos residem, muito para além dos sentidos, os recetores e os transmissores da semiótica do sagrado, que há em mim e que há no outro. E a Poeta sabe de si.
A poeta acaba de forma magistral, fazendo apelo à memória. É que as mãos também têm memória.

Se eu disser que gostei não estou a exagerar, antes pelo contrário.

Bj.

terça-feira, 14 novembro, 2017  
Blogger José Carlos Sant Anna disse...

Revelação de uma ânsia inconsútil, agitada, ao recordar a “lengalenga das mãos”, como se o Eu ainda tivesse muita coisa a dizer ao Outro, ainda que fosse uma confissão ligeira, uma só palavra... até mesmo um beijo?
Tenho uma única certeza: há muita delicadeza e expressividade na melodia desse texto.

Um abraço,

terça-feira, 14 novembro, 2017  
Blogger " R y k @ r d o " disse...

Quando as mãos se entrelaçam
E cria nelas pura sedução
Existem momentos que nunca passam
Ficam gravados no coração
........................
Adorei o seu tema. Lindo demais.
.
Cumprimentos

terça-feira, 14 novembro, 2017  
Blogger Elvira Carvalho disse...

Um texto emocionante. Um poema ou uma prosa poética, que me deixou sem palavras.
Um abraço

terça-feira, 14 novembro, 2017  
Blogger Marta Vinhais disse...

As mãos são belas nas cartas, nos poemas que deixam...
E lembram sempre o toque, a pele e esse calor que está agora apenas na memória....
Lindo...
Beijos e abraços
Marta

terça-feira, 14 novembro, 2017  
Blogger Rogério G.V. Pereira disse...

No dia em que tuas mãos pararem
nada mais esperes da vida
pois nada te acontecerá sem elas


terça-feira, 14 novembro, 2017  
Blogger  _ Gil António _ disse...

Se calhar pensando bem até se pode dizer que: As mãos são o espelho e as mensageiras da Alma.
Será que esta minha frase tem algum "sumo" de verdadeira?
Gostei muito de ler o seu tema
.
{ Suporta o coração a ilusão, o ódio, o desamor }
.
Deixo cumprimentos e os votos de uma Quarta-Feira muito feliz.
.

quarta-feira, 15 novembro, 2017  
Blogger Os olhares da Gracinha! disse...

Um belíssimo entrelaçado se bem que um pouco triste!!!bj

quarta-feira, 15 novembro, 2017  
Blogger lis disse...

Ah esses seus devaneios.. que traduz bem a ternura das mãos quando se entrelaçam aos pares _ aos do filho pequenino que queremos proteger_ aos amigos em demonstração de amizade eterna_ aos bebês quando queremos lhes dizer o quanto são frágeis_ aos enfermos quando lhe confortamos. Ah as mãos! quanto falam sem dizer palavra alguma!
Você tem um quê de magia que nos faz filosofar rs
Um abraço Piedade_saudade.

quarta-feira, 15 novembro, 2017  
Blogger Mar Arável disse...

Que nunca lhe doam as mãos

quarta-feira, 15 novembro, 2017  
Blogger O Árabe disse...

Muito bom, Piedade! E verdadeiro: "a solidão afinal pode ser compartilhada"! Belo post, bom resto de semana.

quinta-feira, 16 novembro, 2017  
Blogger Smareis disse...

Tão lindo esse poema Piedade. Fico maravilhada sempre que te leio. Gostei imenso. A imagem casou tão bem com o poema. É linda.
Um beijo!
Continuação de boa semana!

sexta-feira, 17 novembro, 2017  
Blogger Jaime Portela disse...

As mãos também falam. E quando elas se calam...
Magnífico texto, parabéns.
Bom fim de semana, amiga Piedade.
Beijo.

sexta-feira, 17 novembro, 2017  
Blogger Franziska disse...

Las manos son una maravilla y están llenas de significado. Has escrito un poema maravilloso, inspirado y lleno de ternura y sinceridad.

Un abrazo. Franziska

sexta-feira, 17 novembro, 2017  
Blogger José Leite disse...

A saudade em estado puro... Parabéns.

sábado, 18 novembro, 2017  
Blogger Louraini Christmann - Lola disse...

Ah, as mãos dadas....
Cresci vendo minha mãe e meu pai de mãos dadas.
Meus filhos e minha filha cresceram nos vendo de mãos dadas.
Quero ver mais mãos dadas sempre...

abraço
Lola

sábado, 18 novembro, 2017  
Blogger Ana Freire disse...

Mãos que a vida desentrelaçou... brilhantemente exposto em palavras... e um universo de infinita inspiração, para os poetas...
Maravilhoso trabalho, Piedade, com a qualidade de sempre!...
Beijinho! Bom domingo
Ana

domingo, 19 novembro, 2017  
Blogger AC disse...

A vida não é compasso de espera, a vida é eterno movimento, com milagres a acontecer a cada momento...
Belo, Piedade!

Um beijinho :)

domingo, 19 novembro, 2017  
Blogger Teresa Durães disse...

Uma despedida melancólica (como sempre acontece). Uma belo prosa!

domingo, 19 novembro, 2017  
Blogger LuísM Castanheira disse...

deste calor das mãos
desprendem-se palavras
dadas.
inspiração:
"com as mãos
se faz e se desfaz
a guerra e a paz.

e das mãos
que acariciam
despertam
e guiam
há mãos estendidas
mãos de emoções
de linguagem
e de esperanças perdidas.

com as mãos
se faz o pão
da virtude
do pecado
e do perdão.

Luís M"

belo poema, amiga Pi.



segunda-feira, 20 novembro, 2017  
Blogger Graça Pires disse...

As mãos. A memória das mãos. O silêncio a doer na voz quando as mãos deturpam os gestos e gelam os lábios. Um poema muito sentido, Piedade.
Uma boa semana.
Um beijo.

segunda-feira, 20 novembro, 2017  
Blogger O Árabe disse...

Aguardo o próximo post, Piedade! Boa semana.

segunda-feira, 20 novembro, 2017  
Blogger manuela barroso disse...

Um poema epistolar que nos transporta para a candura e densidade dos afectos de uma forma verdadeiramente bela:No baile das mãos, no tricotar de dedos tão simples como enternecedor.
Beijinho, P. **

segunda-feira, 20 novembro, 2017  
Blogger FILOSOFANDO NA VIDA disse...

Querida, que bela mensagem.A saudade, o afeto, o bem querer...Linda! tenha um belo dia

quarta-feira, 22 novembro, 2017  

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