terça-feira, 5 de janeiro de 2016

quem sabe dos barcos


Quem sabe dos barcos
a subir na maré
aos olhos da madrugada?
 hajota 
e como se a insónia fosse o mar,
eu ouvia-o nas noites quentes de verão,
nessa altura o mar quase que nos entrava,
destapado pela porta da entrada.

eu na cama ancorada, ouvia a fúria
e sabia da espuma das ondas
em seu  persistente bailado, sabia
que no dia seguinte tu ias saber dos barcos.

ensonada  também  ia, e  subia
para a ponta mais alta do cais
e mergulhava
com deleite o meu olhar sobre tudo.

e como a tua imagem era a mais alta de todas,
do meu posto de vigília eu usurpava,
as palavras e até o teu respirar,
e os gestos dos teus braços.

Sabes! A casa da praia já não existe,
agora é apenas um jardim com flores,
por vezes cheias de sede,
e com falta de cores.

E os barcos, pai!
Os barcos pai! Foram abatidos!
E os que restaram, agora até servem para
trazerem coisas durante a madrugada.

©Piedade Araújo Sol 2015-12-30

(em memória do meu pai)

27 Comentários:

Blogger Luis Eme disse...

O mundo gosta de mudar, Piedade.

Os barcos quase que foram expulsos do mar.

E os pescadores tiveram de lhe virar costas. Os mais sonhadores ainda vão todas as manhãs respirar o ar que tem sal e depois entretêm-se a fazer barcos de madeira, quer vendem por tostão e meio aos comerciantes de artesanato...

abraço

terça-feira, 05 janeiro, 2016  
Blogger Agostinho disse...

Very good!

O diamante acolheu-se no manto
da noite até à cristalização perfeita
e surgisse da limpidez pura o canto
Elevou-se no tempo onde o sol se deita
e do brilho de pérolas na face ficasse
terna memória que o perpetuasse

Bj

terça-feira, 05 janeiro, 2016  
Blogger Cidália Ferreira disse...

Uma poesia soberba!!

Beijo e um dia feliz.

http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

terça-feira, 05 janeiro, 2016  
Blogger Ana Freire disse...

Lindíssimo poema... também sobre a viagem feita ao sabor da espuma das recordações... que sempre nos devolvem os olhares de então... resgando-os ao tempo...
Uma pura maravilha em palavras... e um belo suporte em imagem...
Adorei!!! Um belíssimo, e inspirado começo de ano, por aqui, Piedade!...
Beijinhos
Ana

terça-feira, 05 janeiro, 2016  
Blogger mz disse...

A paisagem em constante mudança, deixa-nos a nostalgia das memórias.

Que neste grito aflito, escrito e refletido, possa trazer o lado positivo e que permaneçam, agora as flores.

Bjnhs

terça-feira, 05 janeiro, 2016  
Blogger Suzete Brainer disse...

Os barcos repletos de memórias vivas,
a emoção na ponte atemporal, trazendo
o (seu) Pai com braços cheios do
(a)mar mais sublime para ti, Piedade...
Emocionada com a leitura, deixo um
beijo e abraço solidário!

terça-feira, 05 janeiro, 2016  
Blogger Graça Pires disse...

Os barcos em primeiro plano na lembrança juntamente com a memória do pai. Os olhos a tornarem-se paisagem líquida por dentro das palavras... Tão belo, Piedade!
Um beijo.

terça-feira, 05 janeiro, 2016  
Blogger Marta Vinhais disse...

O olhar sobre o tempo, sobre tudo que modifica...
Um grito de palavras com memórias....
Lindo...
Beijos e abraços
Marta

terça-feira, 05 janeiro, 2016  
Blogger Majo disse...

~~~
Acabei de escrever no «Mar Arável», algo como isto:

Todos temos memórias fantásticas que são tesouros preciosos.

~ Um poema marítimo, pleno de beleza e iluminado de ternura. ~

~~~~~~ Beijinho, Poeta amiga. ~~~~~~
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

terça-feira, 05 janeiro, 2016  
Blogger Elvira Carvalho disse...

Um poema feito de memórias, ou quando a memória se torna poesia, na inspiração do poeta.
Muito bom.
Um abraço e Feliz dia de Reis.

quarta-feira, 06 janeiro, 2016  
Blogger Mar Arável disse...

Excelente homenagem

Bj

quarta-feira, 06 janeiro, 2016  
Blogger O Árabe disse...

Linda imagem, bela e tocante homenagem! Bom resto de semana, Piedade; que aqueles que amamos permaneçam sempre tão lindamente, em nossa memória.

quinta-feira, 07 janeiro, 2016  
Blogger Teresa Durães disse...

O tempo não se padece com as nossas memórias

quinta-feira, 07 janeiro, 2016  
Blogger Rita Freitas disse...

Pois, nada acaba e tudo se transforma.

Gostei imenso deste poema.

Beijinhos e um feliz ano 2016

sexta-feira, 08 janeiro, 2016  
Blogger Jaime Portela disse...

Um excelente poema que, para além da bela homenagem ao teu pai, contém algumas denúncias (abate dos barcos e o seu uso atual...).
Gostei muito, parabéns por mais este magnífico poema.
Bom fim de semana, Piedade.
Beijo.

sexta-feira, 08 janeiro, 2016  
Blogger Rafeiro Perfumado disse...

Adoro o reflexo do barco, excelente fotografia!

sexta-feira, 08 janeiro, 2016  
Blogger Daniel C.da Silva disse...

Sempre o mar, a espuma e as ondas por aqui... :)

Poético, como sempre :)

beijo amigo

sexta-feira, 08 janeiro, 2016  
Blogger O Profeta disse...

ESTRELA DO MAR

Venho de um País encantado
Só com uma casa e sete flores onde tudo pode acontecer
Trago as mãos vazias embrulhadas de silêncio
Dou uma flor das sete a quem me ensinar o viver

Radioso fim de semana
Terno beijo

sexta-feira, 08 janeiro, 2016  
Blogger manuela barroso disse...

A beleza e a nostalgia neste poema-maravilha!
Beijinho, Pi. :)

sábado, 09 janeiro, 2016  
Blogger Maria Rodrigues disse...

Lembranças de outros tempos.
Linda e sentida homenagem.
Beijinhos
Maria

sábado, 09 janeiro, 2016  
Blogger manuela baptista disse...

ele sabe, que a casa da praia já não existe e os barcos abatidos

os bons pais sabem todas as coisas da solidão das madrugadas

ao seu pai

.

beijinhos Piedade

sábado, 09 janeiro, 2016  
Blogger AC disse...

As palavras, aqui, são desnecessárias...
Que maravilha, Piedade!

Um beijinho :)

sábado, 09 janeiro, 2016  
Blogger vieira calado disse...

Muito sentido, o seu poema!
Quanto eu gostava dos barcos, antes dos motores.. e das coisas que agora trazem, sabe-se lá donde!

Beijinhos!

domingo, 10 janeiro, 2016  
Blogger Manuel Veiga disse...

quem assim "rema" na Poesia, traz preso o destino dos barcos...

mto bom.

beijo

domingo, 10 janeiro, 2016  
Blogger Escritora de Artes disse...

Quanta intensidade nas suas palavras, certamente chegaram aos céus em homenagem ao seu pai...

segunda-feira, 11 janeiro, 2016  
Blogger Fábio Murilo disse...

Que lindo Sol, comovente. Lindíssima homenagem a teu pai, parabéns! Gostei imensamente. Muito delicada, aprecio. Beijos!

domingo, 17 janeiro, 2016  
Blogger Fábio Murilo disse...

Ah, ia esquecendo... A musica combinou perfeitamente. Como dizemos pro aqui: "Deu o clima".

domingo, 17 janeiro, 2016  

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