terça-feira, 29 de julho de 2014

Posso despir palavras




Posso despir palavras como as árvores
se despem no outono, na loucura deste 
tempo desencontrado em que todas as 
estações nos habitam.

Posso vestir palavras no conforto do lar,
rodeada de colorações com tintas luxuriantes
quentes ou pálidas conforme
o estado de espírito.

Posso usar palavras para exprimir
satisfação, dor ou revolta
e com elas marcar um ritmo de palavras
minhas e fazer um novo poema.

Mas, hoje só as palavras sofridas
me assistem.

E eu só queria dizer PAZ.

 ©Piedade Araújo Sol 2014-07-22

terça-feira, 22 de julho de 2014

o teu sorriso e os barcos que atravessavam o Tejo

liu yuanshou
Quando a tarde anunciava a noite
e o contraluz do teu olhar
ofuscava-me a visão dos barcos que atravessavam o Tejo
nesse momento eu só conseguia vislumbrar
o teu sorriso do tamanho da cidade.

Escondi-o no fundo dos bolsos do meu  vestido azul
e quando estou nas margens e não estás comigo
eu tiro-o e estendo-o secretamente nas águas
e fico a imaginar emoções em catadupa.

Nesses momentos fico absorta
e agarro a quimera que desenho
em tons cálidos e multicores
semeando apenas garatujos
que nem os peixes conseguem compreender.


©Piedade Araújo Sol 2014-07-21

terça-feira, 15 de julho de 2014

Premonição

Ira Zhuyka Dzhul

Quando a alvorada
invadir este quarto em que repouso
será a hora de partir silenciosa
ao sabor do vento matinal.

Quando o teu corpo acordar
saberás do voo dos pássaros
e dos plátanos que habitam a avenida
e da janela verás ainda a sombra de mim.

E o dia encarregar-se-á de beijar-te
com o sabor dos frutos vermelhos
e do calor do sol em completo alvoroço
encandeando o teu olhar com a sua luz.

E na margem do rio
esculpirás com barro e lama
uma esfinge que perdurará
nas tuas mãos até ganhar forma e rosto.

Por isso, fiquemos aqui a olhar as rosas
que calmamente inundam o nosso leito
em que por vezes, nascemos e morremos
uma, e outra, e outra vez.


©Piedade Araújo Sol 2014-07-14

terça-feira, 8 de julho de 2014

Trilhos


Andei voluntária de mim,
deambulando por trilhos,
incógnitos, e até perigosos pelas montanhas,
mais íngremes e inóspitas que eu conheci,
com um misto agridoce,
e órfãs de pessoas e onde apenas existia a voz.
do eco do meu eco.

Não me senti só,
nunca,e corri desenfreada,
quando descobri pegadas que afinal eram as minhas,
e nem me apercebi.

Percorri labirintos, aspirei aromas desconhecidos,
colhi frutos, engendrei cores,
e fiquei extenuada.

Hoje para ti,
trago-te as minhas mãos cheias,
 das coisas que descobri .

©Piedade Araújo Sol 2014-07-07