Eu escrevo insónia
Dizias que eu, quando me sentia triste, ia para casa
e escrevia um poema.
Mas eu faço poemas mesmo quando não estou triste,
escrevo apenas palavras que brotam de mim
e que ficam ali no papel,
apenas isso. Amanhã, nem eu própria nem ninguém
se lembrará mais delas, das palavras.
.
Eu escrevo insónia e ninguém entende.
E não há motivo aparente para entender.
E se me apetece ligar para ti, não o faço
porque não tenho nada para te dizer,
era só para ouvir a tua voz, mas tu nem irias atender,
porque estás atulhado em trabalho e eu sei que
é verdade, sei, mas não sei se sei aquilo que penso que
sei,
porque eu escrevo insónia, e é só uma palavra.
.
Todas as noites antes de adormecer eu escrevo um SMS,
mas não te envio. Leio e depois apago.
Eu sei que tu dirias que não tinhas tempo de ler
E que isso são coisas de putos
E eu volto a escrever insónia.
.
Ninguém sabe que a noite pode não ser igual para todos,
pode ser terrível
de onde saem todos os espectros que nos assolam e
nos transmitem medo.
.
Eu escrevo medo e ninguém tem medo.
Ninguém tem medo do meu medo.
Ninguém quer saber a cor do medo e afinal sou só eu
que tenho medo,
que desfio as cores complicadas que ele emite.
E de que serve escrever insónia?!
Ninguém se lembra…
Ninguém tem medo das palavras que não mostro…
© Piedade Araújo Sol 2012-10-22
Etiquetas: Piedade Araújo Sol, poesia
38 Comentários:
Sim, a noite pode trazer os fantasmas que habitam o nosso espírito, que as insónias não deixam calar.
Muito intenso este poema, gostei imenso.
Beijinhos
serve pata ti, as palavras ajudam a libertar-te da insónia e do medo.
beijinhos Pi
Talvez, Piedade... mas as palavras nos ajudam a lidar com a insônia que existe em todos nós. Boa semana!
Noites claras
A terrível adultez lúcida quando tudo o que se deseja é ter a inocência de acreditar que as palavras ainda têm eco... e que o "medo" e a "insonia" acabam num afago...
Beijo Piedade
"[...] Ninguém tem medo das palavras que não mostro..."
Não vislumbro que as palavras mostradas por quem ama sejam entendidas pelo meio da distância.
A Poesia é a expressão sentida pelo Poeta, destinada a algo ou alguém que interpretará tão somente o que lhe cai no sentimento.
Isso, sim, é Poesia, como a que te nasce tão fluidamente.
Beijos
SOL
Silaba a sílaba, sobre a poeira das estrelas que não brilham.
Um beijo
É bem por ai,,,o poema nasce de tudo,,,nem só da tristeza,,,de todas as cores e falta delas na vida....beijos e uma bela tarde pra ti...
Parece que á noite, todas as palavras mesmo aquelas que calamos, nos tomam conta do espírito e da alma.
Muito bonito, como tudo aquilo que escreves.
Beijinho
Oi Piedade,
As palavras por vezes nos libertam do sofrimento, e dos medos.
Profundo seu poema.
Beijos e ótima semana
eu tenho medo das palavras não mostradas
um beijo
Insónia... uma palavra pequena, mas que encerra o poder de um imenso desassossego...
O medo tem a cor da noite e, a noite, é aliada de muitos medos...
Bem-haja pelo carinho querida amiga Piedade, deixo-lhe um grande abraço e o meu sorriso :)
As palavras que brotam de si são sempre lindas e cheias de poesia!
Boa noite e tenha uma semana muito feliz!
Mas elas estão lá...
Na nossa insónia...nos fantasmas que adoram a noite, porque se sentem livres e reclamar o tempo....
Lindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Uma linda noite pra ti minha amiga querida e uma excelente quarta feira...beijos poemas e flores sempre...
a vida só por si já é uma insónia e quando os fantasmas atacam as noites ficam insuportáveis
beijinhos
as palavras ganham asas e voam. sempre...
... sabe-se lá a que estranhas insónias vão bater! e a redimir...
gostei. muito.
beijo
Olá cara amiga,
Escreva seus medos, insônias, seja lá o que for, o importante é colocar pra fora o que assola seu coração...
Saiba, é um prazer te ler...
Bjos
Pois é as palavras não mostradas...
marcam mais, magoam mais...
Um beijinho
Irene Alves
Um poema que me fascinou.
Parabéns, Piedade!
Que poema ótimo!
É realmente um prazer ler!
Beijos!
Temo medo meu
enquanto a insónia se faz verso teu
Bjo
Minha querida
E como as insónias das longas noites nos escrevem e se descrevem.
Como sei dessas noites que doiem na alma e no corpo.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Adorei essa ideia de escreveres insónia...!
Talvez todos as escrevamos, mesmo que não em papel. E depois há palavras que passam quando o sono vem, outras que teima em ficar ao acordar...
Obrigada por este poema!
Beijos
Uma bela noite de sábado pra ti amiga....beijos.
Um belo domingo e uma semana repleta de paz e muitas poesias pra ti minha amiga...beijos e flores...
Noites que acordam os sentidos... poemas que nos acordam para aspalavras que não escreves mas transparecem nas tuas linhas. Beijo
Noites de insónias. em que os medos aparecem... palavras que não escreves mas que transpiram nas linhas em que te lemos.
Beijo
Há medos que são só nossos...
Como eu amaria escrever poemas assim- Com ou sem medo.
Nossos medos, nossos fantasmas... Uma parte de nós que nem sempre é dividida. Guardamos, com receio do que vai provocar, ou de não provocar o que esperávamos. Bjs.
Transparente como a insónia. Um grito que nos atravessa. simples. às vezes uma palavras é tanto.
Beijinhos, Piedade.
Poeta versos mui belos
depois passo para poetar
teus belos verso
passe no meu blog tem um presente
pra você.
Luiz Alfredo - poeta
Escreves muito bem.
Bjs
olá Angela
não tenho acesso ao seu blogue.
obrigada!
Algumas insônias são mais perigosas que as palavras, que saem por aí, provocando, sacudindo, devastando e transformando tudo em poesia, como bem sabes fazer.
Beijos, Pi!
Alexandre O'Neill dizia no seu poema:
"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte."
Ao ler este teu, tão sentido, texto veio-me à memória o corpo daquele poema e vi-te nele, assim numa noite de insónia, revirando palavras dentro da tua cabeça, deixando a noite entrar dentro dos teus sonhos e com ela escreveres o que te vai na alma.
Como eu entendo as tuas noites de insónias...
Belo e sentido texto que gostei muito de ler, Pi.
Um grande beijo e mil felicidades.
Ai as palavras...
"Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?"
E.A.
brisas doces *
Identifiquei-me completamente! Beijos.
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