a partida da gazela
Escrevo, cambaleando nas letras que se confundem com a sornice da tarde que cai na cadência ritmada das horas, neste dia de Inverno.
Tenho de confessar que quando me olho ao espelho, por vezes tenho dificuldade em reconhecer a imagem que vislumbro, e suponho ser eu, uma outra pessoa a quem os anos pesam muito mais daqueles que realmente tenho, e me atestam com mais um entre muitos outros como eu. Um ser precocemente envelhecido e cansado.
Sempre te esperei, sem esperar, e quando apareceste na minha vida, qual mulher em corpo de gazela assustada, não te quis, nem soube proteger-te. apenas amei a inocência que trazias impregnada no teu olhar, e contigo descobri recantos escondidos na cidade,enquanto por vezes partiamos em busca de realidades entre dois corpos sedentos de partilha, quais malabaristas de ternuras ilimitadas e por vezes platónicas.
Quando partiste, os teus olhos tornaram-se maiores e ainda mais assustados, as tuas mãos estavam fechadas em forma de concha como se nelas guardasses as pérolas que não te cheguei a oferecer. Não me mexi do meu canto, e sabia que nunca mais partilharia a cidade contigo, nem repousaria jamais meu olhar sobre o teu corpo de gazela.
Escrevo tropeçando nas letras que se arrastam nas noites, em que te espero, e, em que sonho a cidade.
E tudo continua igual. A cidade está igual. Tudo continua no mesmo local. Eu sou o único que mudei, sou eu o complicado nesta partida irreversível.
Olho e não tenho mais nada para olhar, apenas me restam as pérolas que não te cheguei a oferecer, e que eu apanho e imito-te fechando as minhas mãos em forma de concha, como quando partiste....
9 Comentários:
Mais uma vez conseguiste escrever coisas lindas.
Sempre que venho aqui fico enternecida a olhar e a ler o que escreves, imaginando a minha própria vida nas tuas palavras!
É assim a vida.. tão diferente para muitos e tão igual para outros tantos.
Grande beijo
São essas tuas mãos juntas em forma de concha que guardam as palavras mais bonitas, e são ainda, essas tuas mãos, que me fazem voltar sempre na saudade.
Em silêncio, mas contigo, hoje escrevo, e emociono-me.
Um beijo PI
adoro ler-te!! bjos de carinho
porque se deve viver o momento, sem medos. Assim ficam as recordações do que poderia ser...
Beijinho amigo
Cara Piedade Araújo Sol, venho da gaveta do paulo agradecer-lhe a referência que aí escreveu. No passado sábado, o seu nome foi citado pela Amita com muita ternura, no encontro de poesia. Aproveito para cumprimentá-la. Um beijinho. alice.
Consegues a suprema hipnose das palavras! Fico rendido à exuberância dos teus argumentos... o teu mar é ... o mundo inteiro!
Querida Piedade
"o único"? ou "a única"?
Interessante o número de vezes que leio textos de mulheres com prenomes masculinos... por que será?
Um beijo
Daniel
Daniel
A resposta é o único, foi escrito por mim, mas na pele masculina....
Não leste com atenção....
Beijo de carinho..
Bom dia,
“os sonhos são como o vento, sentimo-los, mas não sabemos de onde vêm nem para onde vão” – Frase de Augusto Cury...
Vale apena pensar nisto, nos seus sonhos, faça deles a realidade da existência.
Belo
Bom fim-de-semana
Beijinhos
Conceição Bernardino
http://amanhecer-palavrasousadas.blogspot.com
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