sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

a partida da gazela





Escrevo, cambaleando nas letras que se confundem com a sornice da tarde que cai na cadência ritmada das horas, neste dia de Inverno.

Tenho de confessar que quando me olho ao espelho, por vezes tenho dificuldade em reconhecer a imagem que vislumbro, e suponho ser eu, uma outra pessoa a quem os anos pesam muito mais daqueles que realmente tenho, e me atestam com mais um entre muitos outros como eu. Um ser precocemente envelhecido e cansado.

Sempre te esperei, sem esperar, e quando apareceste na minha vida, qual mulher em corpo de gazela assustada, não te quis, nem soube proteger-te. apenas amei a inocência que trazias impregnada no teu olhar, e contigo descobri recantos escondidos na cidade,enquanto por vezes partiamos em busca de realidades entre dois corpos sedentos de partilha, quais malabaristas de ternuras ilimitadas e por vezes platónicas.

Quando partiste, os teus olhos tornaram-se maiores e ainda mais assustados, as tuas mãos estavam fechadas em forma de concha como se nelas guardasses as pérolas que não te cheguei a oferecer. Não me mexi do meu canto, e sabia que nunca mais partilharia a cidade contigo, nem repousaria jamais meu olhar sobre o teu corpo de gazela.

Escrevo tropeçando nas letras que se arrastam nas noites, em que te espero, e, em que sonho a cidade.

E tudo continua igual. A cidade está igual. Tudo continua no mesmo local. Eu sou o único que mudei, sou eu o complicado nesta partida irreversível.

Olho e não tenho mais nada para olhar, apenas me restam as pérolas que não te cheguei a oferecer, e que eu apanho e imito-te fechando as minhas mãos em forma de concha, como quando partiste....




9 Comentários:

Blogger Carina Oliveira disse...

Mais uma vez conseguiste escrever coisas lindas.
Sempre que venho aqui fico enternecida a olhar e a ler o que escreves, imaginando a minha própria vida nas tuas palavras!

É assim a vida.. tão diferente para muitos e tão igual para outros tantos.
Grande beijo

terça-feira, 06 fevereiro, 2007  
Blogger Alex disse...

São essas tuas mãos juntas em forma de concha que guardam as palavras mais bonitas, e são ainda, essas tuas mãos, que me fazem voltar sempre na saudade.

Em silêncio, mas contigo, hoje escrevo, e emociono-me.

Um beijo PI

quarta-feira, 07 fevereiro, 2007  
Blogger fcsr disse...

adoro ler-te!! bjos de carinho

quarta-feira, 07 fevereiro, 2007  
Blogger tb disse...

porque se deve viver o momento, sem medos. Assim ficam as recordações do que poderia ser...
Beijinho amigo

quinta-feira, 08 fevereiro, 2007  
Anonymous Anónimo disse...

Cara Piedade Araújo Sol, venho da gaveta do paulo agradecer-lhe a referência que aí escreveu. No passado sábado, o seu nome foi citado pela Amita com muita ternura, no encontro de poesia. Aproveito para cumprimentá-la. Um beijinho. alice.

quinta-feira, 08 fevereiro, 2007  
Blogger José Leite disse...

Consegues a suprema hipnose das palavras! Fico rendido à exuberância dos teus argumentos... o teu mar é ... o mundo inteiro!

sexta-feira, 09 fevereiro, 2007  
Blogger Daniel Aladiah disse...

Querida Piedade
"o único"? ou "a única"?
Interessante o número de vezes que leio textos de mulheres com prenomes masculinos... por que será?
Um beijo
Daniel

domingo, 11 fevereiro, 2007  
Blogger © Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Daniel

A resposta é o único, foi escrito por mim, mas na pele masculina....

Não leste com atenção....

Beijo de carinho..

domingo, 11 fevereiro, 2007  
Blogger Conceição Bernardino disse...

Bom dia,
“os sonhos são como o vento, sentimo-los, mas não sabemos de onde vêm nem para onde vão” – Frase de Augusto Cury...

Vale apena pensar nisto, nos seus sonhos, faça deles a realidade da existência.
Belo
Bom fim-de-semana
Beijinhos
Conceição Bernardino
http://amanhecer-palavrasousadas.blogspot.com

sexta-feira, 16 fevereiro, 2007  

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